José Dias Coelho nasceu em Pinhel, Guarda, a 19 de Junho de 1923.
Foi assassinado pela PIDE na Rua da
Creche em Lisboa no dia 19 de Dezembro de 1961.
Margarida Tengarrinha, mulher de José
Dias Coelho, nasceu em Portimão a 7 de Maio de 1928.
Morreu a 26 de Outubro de 1923.
José Dias Coelho e Margarida Tengarrinha
usariam o que aprenderam sobre as suas artes para falsificar documentos e
apoiar a resistência à ditadura.
Antes de ser assassinado, José DiasCoelho estivera numa reunião na casa de Mário Castrim que então morava junto à
estação da Carris em Santo Amaro, tal como conta num poema que consta do seu
livro Viagens:
VIAGEM ATRAVÉS DE UMA FATIA DE BOLO-REI
Corria o ano de 1961.
Estávamos à porta do Natal.
Eram quase duas horas da manhã
e eu perguntei-lhe
se queria comer alguma coisa.
Disse que sim. Mas que
estava com muita pressa.
Enquanto vestia a gabardina, trouxe-lhe
uma sanduíche de fiambre
um copo de vinho
uma fatia de bolo-rei.
Estava de pé
comia como se fosse a primeira vez
desde a infância.
- Há quantos anos
deixa cá ver
há quantos anos é que eu não comia
bolo-rei?
Este é bom, sabe a erva-doce
e a ovos.
(Caíam-lhe migalhas
aparava-as com a outra mão
em concha)
- Comes outra fatia, camarada?
- Isso não.
Estou atrasado já.
Mas se ma embrulhasses...
Através da janela
do quarto às escuras
fico a vê-lo atravessar a Rua da Creche
seguir pela Rua dos Lusíadas.
Nenhum de nós sabia
que estava já erguida a pirâmide do
silêncio
à espera dele
num breve prazo.
Quando talvez o gosto do bolo-rei
mais forte do que nunca
tivesse ainda na boca.
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