Movimento Perpétuo
Ana Cristina Pereira
Prefácio: Victor Pereira
Capa: Inês Sena
Fundação Francisco Manuel dos Santos,
Lisboa, Abril de 2016
Imaginei
a mãe, com 22 anos, ainda a recuperar co parto com dor, sem assistência médica,
com dois filhos, um no colo, o outro mal começara a andar, o marido a ir para a
guerra. E imaginei o pai, com 21 anos, a deixar a mulher e os filhos para trás,
a perguntar-se: «Será que vou voltar?» Só que naquele telefonema inesperado, em
roaming, o pai
não falava disso. O pai dizia: «Eu considerava a comida do barco igual ou
melhor que a de dia de Natal em casa do meu pai. Tinha sopa, prato, fruta,
vinho. Algum dia em casa do meu pai a gente comia sopa e prato?!» Como se
aquela viagem fosse um intervalo entre duas guerras, a da pobreza e a outra.
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