Ternura
Eduardo Olímpio
Capa e Ilustrações: Kira
Edições Maria da Fonte, Lisboa, 1978
A minha mãe punha uma vassoura atrás da porta, eu agarrava nela e fugia. Amontoado nela. Não ia pelo céu: pelo menos aquele céu azul lá de cima, onde h+a sol de dia e estrelinhas à meia-noite. Cavalgava nas rua da vila, acordando mãos-cheias de pó, desde o Bairro-Danado ao Cerro do Moinho. Os homens de barbas brancas diziam: este moço ainda se mata por aí sozinho. Mas as menininhas da minha idade batiam palmas à passagem do meu cavalo levanta-pó: por isso eu chegava sempre.
Entre as duas lágrimas de orvalho que o chinelo da minha mãe me semeava no rabo e saltavam olhos abaixo, ainda tinha tempo e ânimo para gritar: - Esperem, minhas amigas, que eu voltarei: com duas flautas de pinho, com minha espada de freixo, meu cavalo levanta-pó, esperem-me aqui mesmo onde vos deixo…
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