segunda-feira, 23 de outubro de 2023

REQUERIMENTO

Edecetríssimo Senhor:

Eu, Gabriel Celaya, aspirante a poeta,

que aconteça o que acontecer estou sempre onde estou,

lida a sua de tantos de tal e adiante,

respondo-lhe que não.

 

Confesso que sempre clamei a minha verdade, mesmo em verso;

mas já D. Quixote disse: «Eu sou quem sou»,

e ao sê-lo era um qualquer, e ao dizê-lo realizava-se,

e ao formar-nos formava-se,; como ele eu me formo.

Sou irremediavelmente espanhol.

 

Sou humilde, sou digno. Os dois ao mesmo tempo.

Tal como o povo, sou invencível.

Por consequência, rogo-lhe, Senhor, que não me acuse

do ruído que ainda faz o meu velho coração.

A explosão que o assusta é apens um grito de amor.

 

Que Deus o encontre confessado. Encerro o assunto.

Dato e assino em terra vasca, com o sangue de Unamuno,

com o signo que é o humano de clamor unânime

e suplico a V. Exª: - Deixe-me ser espanhol!


Gabriel Celaya em Poesia Espanhola do Após-Guerra

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