Sempre, desde os tempos do Expresso, de onde foi saneada, por motivos nunca declarados, mas calculam-se, para aparecer nas páginas do Público, dentro do suplemento Ipsilon, que me delicio com as crónicas da Ana Cristina Leonardo.
Há sempre uma frase, um parágrafo, que obriga a sublinhados.
«Pois assim sendo, diria eu, no que respeita à homossexualidade o mantra dominante por aqui é, mais coisa menos coisa, idêntico àquele que foi enunciado há muito pelo irlandês republicano, poeta e dramaturgo Brendan Behan (1923-1964). No seu livro Nova Iorque (publicado originalmente no ano da sua morte e editado por cá pela Tinta-da-china em 2010) pode ler-se: “A minha atitude em relação à homossexualidade é muito semelhante à daquela mulher que, aquando do julgamento de Oscar Wilde, disse que não se importava com o que faziam, desde que não o fizessem na rua e não assustassem os cavalos”.
Brendan Behan morreu aos 41 anos na sequência de um coma alcoólico que o fez
cair do balcão do bar onde estava sentado; não por acaso tinha chegado a
definir-se a si próprio como “um bebedor com um problema de escrita” (e eu
aproveito para lamentar a sua morte precoce, assim como o facto de a
auto-ironia ser uma arte tão pouco cultivada…).
O comentário de Behan sobre a homossexualidade mostra-se, apesar das bebedeiras
tenderem a funcionar como desinibidoras de uma certa aspereza linguística,
bastante polido na escolha das palavras. Já a dramaturga e argumentista
norte-americana Lillian Hellman, companheira por trinta anos de Dashiell
Hammett e uma das vítimas da “caça às bruxas” encabeçada na década de 1950 pelo
senador norte-americano Joseph McCarthy, terá sido bem mais gráfica, a
acreditarmos em Christopher Hitchens que a citou dizendo, quando alguém a
interrogou sobre o seu silêncio sobre os gay rights: “The forms of fucking do
not require my endorsement” (mantenho no original para não assustar as
crianças…).»
Ana Cristina Leonardo, de uma crónica no Público
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