Dás alguns passos,
e estás na Via Appia
ou na Tuscolana, onde tudo é vida,
para todos. Ou melhor, é mais cúmplice
dessa vida quem estilo e história
não conhece. Os seus significados
confundem-se na paz sórdida,
na indiferença e na violência. Milhares,
milhares de pessoas, polichilenos
de uma modernidade de fogo, ao sol
cujo significado é também real,
cruzam-se pululando escuras
nos ofuscantes passeios, contra
as Ina-Case enterradas no céu.
Sou uma força do Passado.
O meu amor é só amor à tradição.
Venho das ruínas, das igrejas,
dos retábulos de altar, das aldeias
abandonadas dos Apeninos, dos Pré-Alpes,
onde os meus irmãos viveram.
Ando pela Tuscolana como um louco,
pela Via Appia como um cão sem dono.
Ou olho para os crepúsculos, para as manhãs
de Roma, da Ciociaria, do mundo,
como se fossem os primeiros actos da Pós-História,
a que assisto, por privilégio do registo civil,
da orla extrema de uma qualquer idade
sepultada. Monstruoso é quem nasceu
das vísceras de uma mulher morta.
E eu, feto adulto, mais moderno
do que todos os modernos, ando
em busca de irmãos que já não há.
Pier Paolo Pasolini
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