Algum
dia o poema será a buganvília
pendente
deste muro da Calçada da Graça.
Produz
uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família,
e
além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.
Mas
antes desse dia há-de secar a buganvília
e
o varredor há-de levar as flores secas para o monturo.
Depois
cairá o muro.
E
como o tempo passa
mesmo
contra a vontade,
também
há-de acabar a Calçada da Graça
e
o resto da cidade.
Então,
quando nada restar, nem o pó de um sorriso
que
é o mais leve de tudo que se pode supor,
será
esse o momento de o poema ser flor,
mas
já não é preciso.
António Gedeão d Linhas de Força em Obra Completa
Sem comentários:
Enviar um comentário