domingo, 1 de outubro de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


José Saramago sobre o que somos. Palavras saídas, a maior parte delas dos Cadernos de Lanzarote.

Muita gente, muitos leitores, muitos críticos não compreenderam, não compreendem o porquê deste diário-quase-diário.

No volume II, Saramago, face a uma crítica que Luís Pacheco escreveu, deixa opinião:

«Melhor do que outros encartados críticos e observadores de olhos de falcão, mostra ter compreendido porquê e para quem ando eu a escrever estas sinceridades.»

No Ensaio Sobre a Cegueira, a rapariga dos óculos há-de dizer:

«Há dentro de nós uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos»

«Em Março de 1997, José Saramago deu uma conferência na Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt :

“Que fazemos, em geral, nós, os que escrevemos? Contamos histórias. Contam histórias os romancistas, contam histórias os dramaturgos, contam histórias os poetas, contam-nas igualmente aqueles que não são, e não virão a ser nunca poetas, dramaturgos ou romancistas. Mesmo o simples pensar e o simples falar quotidiano são já uma história. As palavras proferidas, ou apenas pensadas, desde o levantar da cama, pela manhã, até ao regresso a ela, chegada a noite, sem esquecer as do sonho e as que ao sonho tentaram descrever, constituem uma história com uma coerência própria, contínua ou fragmentada, e poderão, como tal, em qualquer momento, ser organizadas e articuladas em história escrita. (…) o autor está no livro, o autor é todo o livro, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor.»


«As perguntas: “Quem és?” ou “”Quem sou?” têm respostas fáceis: a pessoa conta a sua vida e assim se apresenta aos outros. A pergunta que não tem resposta formula-se de outra maneira: “Que sou eu?” Não “quem” mas “quê”. Aquele que fizer essa pergunta enfrenta-se com uma página em branco e o pior é que não será capaz de escrever uma palavra que seja.»

 «Queriam saber tudo quanto me aconteceu e fiz, desde que nasci como escritor e como pessoa. Era como se procurassem a receita mágica, ou não tanto, que faz passar alguém do anonimato nas letras ( sempre relativo) às letras da fama ( relativa sempre). Falo-lhe de trabalho e de disciplina, digo-lhes que não ter pressa não  é incompatível com não perder tempo, que o pecado mortal do escritor é a obsessão da carreira, ilustro tudo isto com a minha própria vida, valha ela o que valer, e não me esqueço de acrescentar que para tudo se necessita sorte: a sorte grande de que os leitores nos descubram a tempo, ou, menor sorte essa, que nos descubram ainda que já seja demasiado tarde para que o saibamos nós.»

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