Eduardo
Guerra Carneiro.
Não raro me
lembro do Eduardo e sempre que isso acontece, coloco poema ou prosa.
Conheci o
Eduardo através de um livrinho de capa vermelha, editado, em Janeiro de 1970
pela Ulmeiro, a que deu o título de Isto
Anda Tudo Ligado que é o 1º volume dos Cadernos Peninsulares.
Custou-me 25
escudos, tal como a lápis o livreiro escreveu na página de abertura.
O título do
livro forneceu frase que muita e variada gente cita amiúde.
Grande parte
dessa gente nunca passou os olhos pelo miolo.
Percorro livre o livro.
Não tenho cartilha. Bebo as letras.
Risco o livro. Leio em voz alta.
Liberto-me do livro e livre
atravesso as ruas. Mas ao livro
regresso e nele me deito.
A ternura das páginas íntimas.
O esboço de outro livro. Nos livros
soletro o que neles não está.
Não tenho cartilha. Bebo as letras.
Risco o livro. Leio em voz alta.
Liberto-me do livro e livre
atravesso as ruas. Mas ao livro
regresso e nele me deito.
A ternura das páginas íntimas.
O esboço de outro livro. Nos livros
soletro o que neles não está.
Uma manhã,
em conversa com Vitor Silva Tavares no subterrâneo 3, perguntei se o Eduardo
deixara espólio.
Não me
respondeu…
Constatei
que a conversa lhe trazia uma certa tristeza.
Não insisti.
De mim para
mim, concluí que esse espólio se encontra perdido, ou em mãos vampirescas à
espera de uma qualquer volta de negócio.
Agora, à
procura de uma outra coisa na colecção da revista &etc , no seu nº 9 de 15 de Maio
de 1973, na página 2, na secção «Alguns de Nós», encontrei o que do Eduardo disseram:
O Eduardo nasceu em Chaves, em 42.
Depois foi à vida: perdeu-se um vossa excelência (4º ano incompletíssimo de
história), ganhou-se um poeta: «O Perfil da Estátua» (pata uma colecção – Silex
– dirigida pelo Casimiro de Brito), 1961; «Corpo Terra», (edição de autor, 500
exemplares, 400 na tipografia), 1965; «Alguma Palavras» (col. Nova Realidade),
1969; «Isto Anda Tudo ligado= col. Cadernos Peninsulares), 1970, e, já na rua
ed. Assírio & Alvim), «É Assim Que se Faz a História».
Livros, amores, deambulações, vagabundagens,
cervejolas, empregos vários, carolices (o & etc agradece, no que lhe toca):
uma generosidade (arrebatada, lírica, desmedida) que lhe alimenta a poesia (dor
mais funda, alegria em sol maior) e lhe dá cabo da gravata.
Assim o Eduardo é um poeta visceral. Talvez
que já não saiba (nem possa) ser outra coisa. Amen.
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