A Portugália
Editora, nos anos 50/60, manteve uma série de Antologias: Líricas Portuguesas,
Contos Portugueses.
Jorge de Sena
foi responsável pelas Líricas Portuguesas que conheceu diversas séries.
Em carta a
Eugénio de Andrade, datada de 3 de Julho de 1958, dá conta da 3ª série da
Antologia:
A Antologia está em vias de conclusão. – tem sido um
trabalho insano, pesquisas, Biblioteca Nacional, o diabo, mas creio que ficará
um monumento para os últimos vinte anos.
Dois dias
depois, dá conta a Eugénio que incluiu António Gedeão na Antologia:
O António Gedeão, aliás Rómulo de Carvalho, que
iniciava o seu professorado liceal na minha turma de 7º ano – o que eu não
sabia -, está já selecionado e biográfico-criticado. Ele havia-me mandado o primeiro
livro, de que eu gostara, com certa expectativa, e o segundo, recentíssimo,
acho-o excelente, para lá dos jogos a que V. justamente se refere e provém de
uma maestria, como direi, excessiva em relação à matéria. Mas muito bom. Vai,
sendo «o mais jovem» de todos, ser cronologicamente o primeiro poeta da 2ª
parte da Antologia.
Em carta datada
de 5 de Janeiro de 1959, Eugénio pergunta por novas da Antologia.
A 25 de Janeiro,
Sena responde com humor e ironia:
A antologia continua a despertar os furores de toda a mediocridade.
Os ataques e os insultos continuam a desabar por todos os lados. Em grande
parte são inspirados pelo furor (uterino) da megera Natália Correia que,
segundo diz um amigo meu, é tristemente, em carne e osso, o que se arranjou do
busto da República. Com a diferença que esta senhora de barrete frígio, por ser
só busto, não intrigava com outras partes mais abaixo. Mas têm amas em comum o
servirem-se da língua, embora com fins opostos.
O Carnaval está
de tempo cinzento, não deu para sair e corresponder à frase do Caderno razão
porque tive que ir buscar uma fotografia dum dia de sol, 12 de Março de há três
anos, tirada perto do Aljube.
Em tempo de Carnaval seria impossível Donald Trump não aparecer com as suas Trumpalhadas.
A noite da atribuição
dos Óscares foi um corrupio de piadas e piadolas sobre Trump.
Os americanos
ficaram também a saber que três fins-de-semana que Donald Trump passou no seu
clube privado em Mar-a-Lago – local bem mais aprazível que a Casa Branca! – já lhes
custaram mais de 10 milhões de dólares.
Mas não resisto
a transcrever o final de um artigo de Luís Ribeiro, publicado na Visão de 16 de
Fevereiro:
Não admira que Trump esteja tão irritado com as fugas
de informação. As mais recentes traçam-lhe um perfil (quase) cómico: certa
noite, o republicano terá telefonado, por volta das três da manhã ao próprio Michael Flynn para lhe perguntar se era melhor para a
economia americana um dólar fraco ou forte; haverá ordens explícitas para que
os documentos informativos para o Presidente tenham apenas uma página e
organizados por pontos (e não podem ter mais de 9 pontos); ao telefone com
Vladimir Putin, demonstrou que não sabia o que era o Tratado START (acordo de
redução de armas estratégicas entre os dois países); passa uma enorme parte do
dia e da noite a ver televisão, e muita da informação que recolhe tem origem na
ultraconservadora Foz; finalmente para passar o tempo entre reuniões, vai ter
com os visitantes da Casa Branca (aberta a tours pagos) e entretém-se a mostrar-lhes as mudanças decorativas
que fez na residência oficial.
Parecia-me que andava em visita de médico aos
suicidas. Akutagawa. Dazai. Plath. Mortos pela água, por barbitúricos e por
monóxido de carbono; Sylvia Plath matou-se na cozinha do seu apartamento em
Londres, no dia 11 de Fevereiro de 1963. Tinha trinta anos. Foi um dos invernos
mais frios de que há memória em Inglaterra. Tinha estado a nevar desde o Boxing Day e a neve atingia uma grande
altura nas valetas. O rio Tamisa estava gelado e as ovelhas morriam à fome nas
montanhas. O seu marido, o poeta Ted Hughes, tinha-a deixado. Os filhos estavam
cuidadosamente aconchegados nas suas camas. Sylvia meteu a cabeça no forno.
Treme-se só de pensar na situação de uma existência capaz de chegar a um
desencanto tão radical. O cronómetro marca o tempo. Ainda restam alguns
momentos, a possibilidade de ainda poder viver, de desligar o gás. Imagino o
que terá passado pela sua cabeça naqueles minutos: os seus filhos, o embrião de
um poema, o marido mulherengo a barrar uma tosta ao pé de outra mulher.
Pergunto-me o que terá acontecido ao forno. Talvez o inquilino seguinte tenha
ficado com um fogão impecavelmente limpo, um enorme relicário da última
reflexão de um poeta e um fio de cabelo castanho-claro preso numa dobradiça de
metal.
Hoje é domingo
de Entrudo e logo à noite vamos ter Lua Nova.
Soube-se agora
que o Governo de Direita chefiado, por Pedro Passos Coelho e acolitado por Paulo
Portas, deixaram sair, pelo menos, 10 milhões de euros para off-shores.sem que tenha existido um controlo por parte
do fisco.
Instado a dizer
como foi possível, Paulo Núncio, então secretário de estado dos Assuntos Fiscais,
disse que a culpa não foi dele mas da Autoridade Tributária.
Azevedo Pereira,
então director da Alta Autoridade, já respondeu que por três vezes solicitou
autorização para publicar as estatísticas do dinheiro que voava para os
paraísos fiscais e nunca obteve essa autorização.
Paulo Núncio é
um rapaz do CDS que nos primeiros tempos do Governo do PS, declarou solenemente
que o CDS tem de estar preparado para voltar a governar quando o Partido
Socialista gastar o dinheiro que resta.
Como escreveu
José Pacheco Pereira no Público:
… é uma afronta para os portugueses tomá-los por
parvos!
Rómulo Vasco da Gama Carvalho gostava muito de fazer
palavras cruzadas, daquelas sem quadradinhos pretos e também das outras.
Gostava também de hieróglifos comprimidos. Deve ter sido das primeiras coisa
que me ensinou. A fazer palavras cruzadas.
Tinha sempre na carteira de bolso um ou dois recortes
do jornal Diário de Notícias ou
do Diário de Lisboa com as tais palavras cruzadas. Toda a vida vi-o a
fazer isto. Era quase como um comprimido para o cérebro. Dizia ele que era um
ótimo exercício cerebral!
Coisas simples!
Começava por ler o jornal – colocava-o em cima do
armário – e lia. Com pormenor, as notícias principais, os anúncios, sem nunca
perder de vista a necrologia. A necrologia era a última secção do jornal a ser
lida mas era lida com muito interesse e muitas vezes comentada «Olha, lá se foi
o senhor tal e tal ou a senhora tal e tal!» ou então «Coitado! Andei com ele na
escola… Um grande patife!»
Donald Trump
apelidou os jornalistas e a comunicação social, que não que não aparam as suas
golpadas e mentiras, de «inimigos do povo».
Ontem a Casa
Branca impediu a entrada de jornalistas da CNN, BBC, The New York Times, LA
Times, The New York Daily News e do Daily Mail,
não permitindo o acompanhamento do briefing diário feito pelo
porta-voz Sean Spicer.
O New York
Times irá aproveitar, amanhã à noite, a transmissão televisiva da gala da
entrega dos Óscars, para num dos intervalos publicitar um vídeo que se centrará
no lema «A verdade é difícil. Difícil de encontrar. Difícil de saber. A
verdade é mais importante agora do que nunca.»
O editor Arthur
Sulzberger, Jr. afirmou em comunicado que o New York Times está a estará
«comprometido com a procura pela verdade», especialmente numa época «em que
há tantas incertezas sobre o que é real e o que são notícias falsas»
A CNN reagiu na
rede social Twitter com a mensagem:
«Este é um desenvolvimento inaceitável pela Casa
Branca de Trump. Aparentemente, esta é a forma como retaliam quando se noticiam
factos de que não gostam».
O periódico & etc, quer na sua forma primitiva
(1967-1971) como suplemento literário do Jornal do Fundão, quer já autónomo
(1973-1974), como magazine cultural, marcou uma época histórica que acompanha a
resistência ao salazarismo e, depois, o fim do marcelismo.
As suas caraterísticas contraculturais e libertárias
ficaram a dever-se a um vasto conjunto de escritores e ilustradores, de que
Vitor Silva Tavares sempre se fez rodear, numa deliberada proposta límpida e
moderna, posteriormente enformadora do que veio a ser a editora de livros
homónima.
A Biblioteca Nacional de Portugal assinala com a presente
exposição os 50 anos decorridos sobre a publicação do número 1 do periódico,
mas também o inesperado falecimento do seu respetivo mentor.
Vitor Silva Tavares, filho da Madragoa, nascido a 17 de
julho de 1937, faleceu num hospital da sua cidade a 21 de setembro de 2015.
Mais conhecido como editor de livros e do periódico & etc, são de assinalar as suas fulgurantes passagens pela programação da editora
Ulisseia, num curto período que se estende de finais de 1964 ao início de 1967,
esporadicamente até meados de 1968, e pela direção do suplemento literário do
Diário de Lisboa, no início dos anos 70. De permeio inventa, para encarte no
Jornal do Fundão, o suplemento cultural & etc..., já na altura de cariz
libertário, e experimental no sentido em que ali se ensaiaram algumas das
regras básicas no jogo de iludir a censura.
Paulo da Costa Domingos
Comissário
A exposição está patente na Biblioteca Nacional de 22 de
Fevereiro a 31 de Maio e será acompanhada pela projeção, às 12,00 e 16,00
horas, na Sala Multimédia, do filme Vitor Silva Tavares – certos curtos sinais,
um projeto de Diogo Vaz Pinto, Hugo Magro e Paulo Tavares.
O catálogo da exposição é editado pela Letra Livre
Unir dor e alegria, ligar paciência ao grito, perceber
que a noite áspera e a leveza do riso estão costuradas com a mesma delicada
linha são aprendizagens para aceder à profundidade da vida.
Que ideia a sua de cuidar que eu andaria aqui
embezerrado, a rilhar enfados e malquerenças! Que grande engano o seu, se o
pensou. Os nossos arrufos passavam-se num plano a que se pode chamar «técnico»,
o qual plano nada tem que ver com o calor da boa e funda amizade que lhe
consagro. Fica é entendido que quando o autor-Miguéis tiver qualquer motivo de
queixa, por mais insignificante que seja ou pareça ser, rapa da portátil e põe
ali, preto no branco, enquanto tiver de ser, os seus agravos. Cã estão os
amigos-editores para os escutar e atender. E encerrado o incidente, passo ao
restante.
Já cá tinha lido a denúncia miserável do miserável
Anselmo. (*) Teria ficado edificado, se o não estivesse há muito quanto à
função policial por este «escritor» exercida. Bem compreendo a vontade de
voltar que essas coisas lhe estarão dando… Isto por cá está tão podre, meu
Amigo, tão triste e tão mesquinhamente pobre! Agora já nem da fachada se cuida:
como eu dizia há tempos em carta ao Jorge de Sena: «vive-se num jardim à
beira-morte plantado…» em constante incerteza e insegurança, num temor que
corrói tudo – a começar pelo futuro. Será que conseguiremos sobreviver? Como
lugar geográfico, naturalmente, mas como povo? Que lugar ocuparemos no mundo
daqui por cinco, dez anos? Põe-se a gente a imaginar, e o que imagina dá
vontade de fugir.
Carta de José
Saramago para José Rodrigues Miguéis, datada de 12 de Maio de 1961 em
Correspondência.
(*) Trata-se de
Manuel Anselmo e de um episódio relatado por Miguéis, em carta para Saramago,
datada de 10 de Abril de 1961:
A casa onde moramos, aqui, vais ser finalmente
demolida dentro não sei de que prazo, e temos agora a apoquentação duma mudança
– com rendas ao dobro! (Era uma casa velha, vasta, de renda fixada por lei.)
Basta isto para me desorganizar o trabalho. Foi uma das razões que cá me
trouxeram, porque minha mulher, cidadã americana, tem de ter domicílio aqui
estabelecido, se quiser residir em Portugal sem perder a naturalização USA –
Não sei se sabe que o gatuno encartado Manuel Anselmo acaba de me denunciar
(mais uma) no último dos seus Cadernos
periódicos: reproduz uma notícia do Avante de 1941, extraída dum
jornal americano, sobre um discurso que eu fiz aqui, nesse a ano a respeito da
invasão da URSS pelos alemães. Falei ao lado de professores da Harvard e de
líderes trabalhistas. Já se vê onde ele quer chegar – atingir o escritor através
do homem… de há vinte anos. Estão-me a fazer a cama, e isto dá-me imensa
vontade de voltar…
Pertence a Sérgio
Godinho a mais feliz definição de José Afonso:
Abriu janelas onde nem paredes havia.
Já fui andarilho e cantor, Bendito seja o pão, Bendita
seja a dor, Bendita as portas do amor!
José Afonso
Quando há alguém maior do que o tempo, só podemos
ficar gratos. Quando é português, só podemos ficar orgulhosos. As canções de
José Afonso são tão bonitas e importantes que não se consegue imaginar a sua
ausência. Vivem de um tempo para a eternidade, como tudo o que é genial e belo.
Toda a obra de José Afonso está agora reeditada em CD.
Não deve ser preciso dizer mais nada.
Revista K,
Agosto de 1992
Sem muros nem ameias, gente igual por dentro e por
fora.
José Afonso
… talvez no fundo eu seja um homem mal resolvido.
Entrevista à
José Amaro Dionísio, Expresso, 15 de Junho 1985
O medo foi sempre um sentimento que conviveu comigo. O
medo a que se sobrepunha uma sensação de angústia, género «como é que me vou comportar
em tal ou tal situação?
Entrevista à
José Amaro Dionísio, Expresso, 15 de Junho 1985
Amigo maior que o pensamento.
José Afonso
Se os encartados arrumadores de música persistirem,
mesmo assim, em recusar à obra de José Afonso um lugar na categoria da música
«clássica» que se apressem a rever a sua definição desta, antes que, por
completo, os deixemos de tomar a sério.
João de Freitas
Branco
Sou fruto de muita gente, de muitos lugares e
dissabores.
Entrevista O
Diário 2 de Janeiro de 1983
Nunca tive prazer em fazer música.
Entrevista
Alexandre Manuel ao Diário de Notícias de 28de Abril de 1984
Um dia hás-de aprender haja o que houver.
José Afonso
… e afinal, eu só queria dizer que fazes uma falta do
caraças!
Manuel Freire,
Fevereiro de 1992
… pois tu é que partiste cedo demais, meu sacana!
Samuel,
Fevereiro 2012 Legenda: fotografia de Júlio Gomes tirada do Cinéfilo nº 8.
O escultor José
Dias Coelho foi assassinado pela PIDE no dia 19 de Dezembro de 1961, na Rua da
Creche, rua que hoje tem o seu nome, junto ao Largo do Calvário.
O assassinato
está assinalado na canção de José Afonso “A Morte Saiu à Rua”do álbum “Eu
Vou Ser Como a Toupeira", gravado em 1972.
Antes de ser
assassinado, José Dias Coelho estivera em casa de Mário Castrim que, na altura,
morava na Rua Luís de Camões, perto da estação dos carros eléctricos de Santo
Amaro.
No livro “Viagens”,
o poema “Viagem Através de Uma Fatia de Bolo-Rei”, Mário
Castrim assinala esses últimos momentos de vida de José Dias
Coelho:
Corria o ano de 1961. Estávamos à porta do Natal. Eram quase duas horas da manhã
e eu perguntei-lhe
se queria comer alguma coisa.
Disse que sim. Mas que
estava com muita pressa.
Enquanto vestia a gabardina, trouxe-lhe
uma sanduíche de fiambre
um copo de vinho
uma fatia de bolo-rei.
Estava de pé
comia como se fosse a primeira vez
desde a infância.
- Há quantos anos
deixa cá ver
há quantos anos é que eu não comia
bolo-rei?
Este é bom, sabe a erva-doce
e a ovos.
(Caíam-lhe migalhas
aparava-as com a outra mão
em concha)
- Comes outra fatia, camarada?
- Isso não.
Estou atrasado já.
Mas se ma embrulhasses...
Através da janela
do quarto às escuras
fico a vê-lo atravessar a Rua da Creche
seguir pela Rua dos Lusíadas.
Nenhum de nós sabia
que estava já erguida a pirâmide do silêncio
à espera dele
num breve prazo.
Quando talvez o gosto do bolo-rei
mais forte do que nunca
tivesse ainda na boca.
Funcionário
clandestino do Partido Comunista, José Dias Coelho seguia pela Rua dos
Lusíadas, quando cinco agentes da PIDE, saltaram de um automóvel e
alvejaram-no, à queima-toupa, com um tiro no peito, e dispararam outro tiro
quando já se encontrava por terra.
No nº
9, referente a Março de 1962, de “Notícias do Bloqueio”, Pedro Alvim, no poema
intitulado “Lisboa”, refere o assassínio de Dias Coelho:
4 – Alcântara
Há quem tombe por um rio
Impetuoso e comum:
Alcântara dos tiros cegos
Alcântara sessenta e um.
No dia 24 de
Novembro de 1976, começava, no 1º Tribunal Militar Territorial de Lisboa, o
julgamento do ex-agente da PIDE António Domingues, acusado de ter assassinado
José Dias Coelho, julgamento que só terminaria no ano seguinte:
Na 1ª página do “Diário
de Notícias”, de 6 de Janeiro de 1977, lia-se:
“O antigo agente da PIDE/DGS António Domingues,
responsável pela morte do escultor comunista José Dias Coelho, foi, ontem,
condenado em três anos e nove meses de prisão maior. Perdoados 90 dias e tomado
em conta o tempo de prisão preventiva que já sofreu, desde 1974, vai o réu
cumprir apenas mais cerca de 10 meses de cadeia. O tribunal (3ºTMTL) considerou
não ter havido homicídio voluntário, mas apenas “ofensa corporal voluntária, de
que resultou a morte “praeter-intencional”. Dado como provado o disparo de dois
tiros, o último dos quais com a arama “muito próxima da roupa da vítima, a
sentença foi recebida pela assistência com uma manifestação de protesto.”
No editorial do
“Diário de Lisboa," também de 6 de Janeiro, lia-se:
“Na verdade, reconhece-se a legitimidade da
“profissão” de assassino de adversários políticos de um regime. É um insulto à
memória de José Dias Coelho.
Um insulto aos mortos e aos vivos da resistência
antifascista.
Um insulto ao 25 de Abril.”
Legenda: A
imagem de topo é uma gravura de José Dias Coelho, representando o operário
Cândido Martins, assassinado na frente da manifestação do Barreiro contra a
burla eleitoral e publicada no “Avante” nº 130 de Novembro de
1961. Para a que seria a sua última gravura, José Dias Coelho escreveu: “De
todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz
levantar as mais copiosas searas”
José Afonso,
vindo de Moçambique, regressa a Lisboa.
Este recorte do
Diário de Lisboa regista esse regresso-amargo-triste.
«Desembarquei sem um tostão no bolso, mas com seis meses de ordenado em
atraso.»
A notícia refere também que José Afonso gravou no Estúdio do RCP quatro canções
que seriam transmitidas à noite no P.B.X. e que levaram quatro horas a ser
gravadas.
«Estive muito tempo sem cantar. Estou sem caixa nenhuma.»
No estúdio, estavam Carlos Paredes, o dr. Jorge Tuna, Durval Moreirinhas e
outros amigos e ouviram o Zeca futurizar:
«O ensino dá-me para o tabaco e para pagar a renda.
Por isso vou cantar.»
Final da reportagem:
«José Afonso veio para ficar. Agora, vai para o
Algarve. Depois voltará em direcção ao Centro, mas não importa onde porque aqui
vai ficar, cantando, ensinando, trabalhando em novas músicas, em novos poemas,
porque agora terá mais diálogo do que em Moçambique, porque a velha realidade
lhe dará novos pontos de partida, porque mais ele a sentirá. José Afonso veio
para ficar.“Velas e remos a arder”, ele não é homem para deixar.»
Ficou-nos o seu
exemplo, o sorriso simples e franco, a música, as canções.
Inúteis as
palavras que possa trazer para aqui.
Neste dia em que
a tristeza nos invade, sempre nos envolverá essa tristeza, trago uma das
canções do Zeca que só muito tarde descobri, uma canção que aprendi a gostar.
A minha paragem seguinte era na Newbury’s , a loja das
pechinchas no centro da cidade. Se voltássemos logo à direita, depois de
entrarmos, íamos para o canto apertado onde estavam os discos (nesse tempo, lá
nos confins onde vivíamos, não havia lojas de discos). Havia apenas algumas
prateleiras com singles a 45
cêntimos. Não havia propriamente discos para mim, apenas alguns de Mantovani ou
compilações de vários artistas, talvez alguns discos de jazz na
prateleira do fundo. Nunca ninguém olhava eles. Eram discos para «adultos». O
mundo dos adolescentes era o mundo dos discos de 45 rotações. Um pequeno
círculo de cera com um buraco do tamanho de meio dólar ao meio, onde tínhamos
de pôr um adaptador de plástico. O gira-discos lá de casa tinha três
velocidades: 78, 45 e 33 rotações por minuto. Os «nossos» eram os de 45. A
primeira coisa que descobri foi um disco chamado The Beatles with Tony Sheridan
and Guests. Uma vigarice. Os Beatles a acompanharem um artista qualquer de que
nunca tinha ouvido falar a cantar «My Bonnie». Comprei-o. E ouvi-o. Não era
grande coisa, mas era o mais perto que eu conseguia chegar até eles.
Muito triste, mesmo depois da visita da K., em que a
L. fez tudo como sempre para me restituir a alegria perdida, subitamente ontem.
Continuam as torturas tendo estar a espancar um moço das 3 menos 10 até às 4
horas. Nem sei como almocei. Eram berros horríveis e mesmo assim parecia que
lhe tinha(m) posto um lenço na
boca, porque chegavam abafados. Estive quase a vomitar o almoço, o estômago
recusa-se a digerir e cada vez me sinto pior. Terei ainda que aguentar isto
muito tempo? Ficarei a mesma pessoa? Às vezes tenho medo de perder a cabeça, de
enlouquecer. Pensando na tristeza desde ontem naquele súbito sentimento de
solidão total descobri que foi devido a uma coisa que a K. me contou.
As canções do Woody Guthrie regulavam o meu universo
mas, antes dele, Hank Williams tinha sido o meu compositor favorito, embora
fosse sobretudo como cantor que eu o visse. O Hank Snow andava empatado. Mas
nunca consegui escapar do intenso e agridoce mundo solitário do Harold Arlen.
Van Ronk conseguia cantar e tocar estas canções. Eu também mas nunca sonharia
fazê-lo. Não estavam no meu guião. Não estavam no meu futuro. O que era o
futuro? O futuro era uma parede sólida, não promissora, não ameaçadora – apenas
pedra. Não havia garantias de espécie alguma, nem mesmo de que a vida não fosse
uma grande anedota.
Sofreu um AVC no
dia 1 de Fevereiro, depois de, na véspera, celebrar 91 anos.
Foi o primeiro
embaixador português em Cuba nomeado por Mário Soares, então ministro dos
Negócios Estrangeiros.
A propósito, ler
o texto que o embaixador Francisco Seixas da Costa escreveu no seu blogue Duas ou Três Coisas.
A produção
literária de José Fernandes Fafe inclui mais de duas dezenas de obras, de
poesia, teatro, romance e ensaio. Uma das suas obras mais conhecidas - Annie:
uma portuguesa na revolução cubana - centra-se na biografia de
Ana ("Annie") Silva Pais, a filha do último diretor da PIDE, Fernando
Silva Pais, que foi para Cuba em 1963 acompanhando o marido e se apaixonou pela
revolução cubana.
Um poema de José
Fernandes Fafe tirado de Poesia Amável:
È muito difícil,
quase impossível, saber onde poderá chegar o mundo com Trump na presidência dos
Estados Unidos.
Num discurso
proferido, hoje, na Florida, declarou que na sexta-feira houve um ataque
terrorista na Suécia.
Eles acolheram
um grande número de imigrantes e refugiados e estão a ter problemas como nunca
pensaram ser possível.
Card Bildt,
ex-primeiro-ministro sueco, escreveu no Twitter:
A Suécia? Um atentado?
O que é que ele fumou?
Por tal
informação, Donald Trump já está a ser ridicularizado um pouco por todo o
mundo.
A administração
norte-americana sonha com atentados terroristas.
Kellyanne Conway, a conselheira de Trump referiu-se ao "massacre
de Bowling Green" numa entrevista e explicou mais tarde que se referia aos
"terroristas de Bowling Green", dois iraquianos condenados em 2011
por tentarem enviar dinheiro e armas para a al-Qaeda.
Também o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, falou por três vezes
numa semana no atentado de Atlanta (no Estado da Geórgia), antes de se lembrar
que o mesmo tinha na verdade acontecido em Orlando, na Florida.
Preocupante mesmo
é a revelação dos «media» que o presidente russo, Vladimir Putinn, e Donald
Trump, acertaram na segunda-feira a «normalização» das relações entre os dois
países e a busca de uma «cooperação construtiva.»
Legenda: a
imagem é a capa da Time com a legenda: «Não há nada para ver aqui».
P.S. – Sabe V. que o meu soneto à memória do papa me
valeu uma carta anónima do Porto, classificando-o de… não poesia mas desinteria?
Palavra que, para meu governo, gostaria de saber quem foi, pois não terá sido
um simples leitor qualquer, Investigue-me isso.
Por carta,
datada de 10 de Novembro, Eugénio de Andrade responde a Sena:
Que coisa horrorosa essa história da carta anónima!
Não poderei averiguar nada sobre isso – há já muito, muito tempo, que me
afastei de qualquer convívio de todos os «literatos» capazes de tais infâmias!
E aqui há bastantes!
É este o soneto
de Jorge de Sena:
Como de Vós
À memória do papa Pio XII que quis, ouvir,
moribundo, o «Alegret-
To da Sétima Sinfonia de
Beethoven
Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,
importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.
Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo
Vivia-se de cócoras – o riso era uma indecência e o
amor uma extravagância. A vida, qualquer coisa que, de repente, se descobria
ter desperdiçado enquanto fora tempo. Nessa noite, no entanto, Lisboa festeja,
como uma louca sem noção do tempo, do espaço ou das circunstâncias, o duplo
centenário. Vive-se a última oportunidade para visitar essa obra-prima da
arquitectura para ver e deitar fora que é a Exposição do Mundo Português, em
Belém. Centenas de lisboetas não perdem tempo e tratam de se extasiar com o
simulacro de Império erguido à beira-Tejo, para maior glória do Estado Novo.
Faz hoje um mês
que Donald Trump começou a fazer da Casa Branca um circo e uma feira de
vaidades.
Os jornais fazem
uma selecção de frases proferidas por Trump desde que assumiu a presidência:
«Tudo começa hoje.»
«A partir de agora, a América primeiro.»
«Hoje, não
estamos só a transferir poderes. Estamos a retirar o poder de Washington para o
devolver ao povo
20 de janeiro será recordado como o dia em que o povo
voltou a mandar no país.»
«A América vai começar a ganhar de novo, a ganhar como
nunca antes. Vamos trazer de volta empregos. Vamos trazer de volta fronteiras.
Vamos trazer de volta riqueza. E vamos trazer de volta os nossos sonhos.»
O México aproveitou-se dos EUA durante demasiado tempo.
Enormes défices comerciais e a pouca ajuda na muito débil fronteira, isso deve
mudar, AGORA.»
«O decreto de restrição à imigração e entrada de
refugiados nos Estados Unido] está a funcionar muito bem. Vê-se nos aeroportos,
por todo o lado.»
«Para que as coisas sejam claras, não se trata de uma
proibição contra os muçulmanos, como os 'media' noticiam falsamente. Isto não
tem nada a ver com a religião, trata-se de terrorismo e da segurança do nosso
país.»
«Quando um país não é capaz de dizer quem pode e quem
não pode entrar e sair, especialmente por razões de segurança, é um grande
problema.»
«Não posso simplesmente acreditar que um juiz tenha
posto o nosso país em tanto perigo. Se algo acontecer, a culpa será sua e do
sistema judicial. As pessoas estão a entrar no país. Mal!»
«Às forças da morte e da destruição, saibam que os EUA
e os seus aliados vão vencer-vos. Vamos vencer o terrorismo islâmico radical e
não o deixaremos ganhar raízes no nosso país.»
«Se os Estados Unidos não ganharem este caso [decisão
judicial contra o veto migratório], como tão obviamente deveriam, nunca
conseguiremos ter a segurança a que temos direito. Política!»
A minha equipa funciona como uma máquina afinada à
perfeição.»