Os trabalhos de restauro foram mínimos. Silvestre não
queria desrespeitar aquilo que ele chamava de «obras do tempo». De um único
labor ele se ocupou: à entrada do acampamento havia uma pequena praceta com um
mastro onde, antes se hasteavam bandeiras. Meu pai fez do mastro um suporte
para um gigantesco crucifixo. Por cima da cabeça de Cristo ele fixou uma
tabuleta onde se podia ler: «Seja bem-vindo, Senhor Deus.» Esta era a sua
crença:
- Um dia, Deus
nos virá pedir desculpa.
O tio e o ajudante se benziam, atabalhoadamente, para
esconjurar a heresia. Nós sorríamos confiantes: alguma protecção divina
deveríamos usufruir para nunca sofrermos de enfermidade, mordedura de cobra ou
emboscada de bicho.
Mia Couto em Jesusalém
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