quarta-feira, 29 de março de 2017

O MEU MAIOR SONHO DE ROCK AND ROLL


 As coisas começavam a aquecer. Enviaram um vídeo para todas as delegações da Columbia Records nas cidades principais, no qual o Clive Davis lia a solo as letras de «Blinded by the Light» como se fosse Shakespeare. Contudo, venderam-se a penas cerca de 23 mil cópias do Greetings; para os padrões da editora, foi um fracasso, mas um êxito para os meus. Quem eram todos aqueles desconhecidos que compravam a minha música?
Estava eu parado numa esquina antes de um espectáculo numa escola em Connecticut quando um carro parou nos semáforos e ouvi a «Spirit in the Night a tocar no rádio: o meu maior sonho de rock’n’roll tornado realidade! A primeira vez que se ouve uma canção nossa na rádio é inesquecível. De súbito, eu fazia parte da misteriosa procissão da música popular que me enfeitiçara desde que, de olhos sonolentos, fora embalado ao «som fumarento dos botões» do autorádio do meu avô. A rádio mantivera-me vivo durante a adolescência. Para a minha geração a música soava melhor saída de um minúsculo altifalante de rádio. Mais tarde, ao gravarmos música, pousávamos um desses altifalantes em cima da consola do estúdio e não aprovávamos uma mistura até a música parecer sair do mesmo num som vibrante. A música na rádio é um sonho partilhado, uma alucinação coletiva, um segredo entre milhões e um sussurro ao ouvido de todo o país. Quando a música é boa, tem lugar uma subversão natural da mensagem controlada e diariamente emitida pelos poderosos, as agências de publicidade, os blocos de comunicação generalizada, as organizações noticiosas e os guardiões do status quo entorpecedores da mente, inibidores da alma e negadores da vida.

Bruce Springsteen em Born To Run

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