As coisas
começavam a aquecer. Enviaram um vídeo para todas as delegações da Columbia
Records nas cidades principais, no qual o Clive Davis lia a solo as letras de
«Blinded by the Light» como se fosse Shakespeare. Contudo, venderam-se a penas
cerca de 23 mil cópias do Greetings;
para os padrões da editora, foi um fracasso, mas um êxito para os meus. Quem
eram todos aqueles desconhecidos que compravam a minha música?
Estava eu parado numa esquina antes de um espectáculo
numa escola em Connecticut quando um carro parou nos semáforos e ouvi a «Spirit
in the Night a tocar no rádio: o meu maior sonho de rock’n’roll tornado
realidade! A primeira vez que se ouve uma canção nossa na rádio é inesquecível.
De súbito, eu fazia parte da misteriosa procissão da música popular que me
enfeitiçara desde que, de olhos sonolentos, fora embalado ao «som fumarento dos
botões» do autorádio do meu avô. A rádio mantivera-me vivo durante a
adolescência. Para a minha geração a música soava melhor saída de um minúsculo
altifalante de rádio. Mais tarde, ao gravarmos música, pousávamos um desses
altifalantes em cima da consola do estúdio e não aprovávamos uma mistura até a
música parecer sair do mesmo num som vibrante. A música na rádio é um sonho
partilhado, uma alucinação coletiva, um segredo entre milhões e um sussurro ao
ouvido de todo o país. Quando a música é boa, tem lugar uma subversão natural
da mensagem controlada e diariamente emitida pelos poderosos, as agências de
publicidade, os blocos de comunicação generalizada, as organizações noticiosas
e os guardiões do status quo
entorpecedores da mente, inibidores da alma e negadores da vida.
Bruce Springsteen em Born To Run
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