Em carta, datada de 3 de Julho de 1961, Miguéis diz a
Saramago que ainda vive debaixo da impressão – do choque – que nos causou
o suicídio do Hemingway (e por muito bestial que o homem fosse, o artista era
único, e a sua perda irreparável.
E já em findar de carta escreve:
A quase todos nos falta a longa paciência (a
consciência, o métier) que faz os Hemingways… O homem estava a sofrer duma
velha cirrose, de hipertensão, talvez de diabetes, e (suspeito) de cancro: é
mais fácil enfrentar um toiro Miúra (em imaginação?) do que a morte lenta da
desintegração… Ah, se ele tivesse lido Um Homem Sorri à Morte! Trop
tard… O Hemingway viveu a afrontar perigos: fractura da espinha, ferimentos
graves, alcoolismo, trabalho duro… Respeito-lhe a decisão. Também o
Essenin, o Block, o Mayakóvasky se mataram…
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