sexta-feira, 10 de março de 2017

COMO SE TIVESSEM AS RESPOSTAS PARA TUDO


Irwin Silber, editor da revista folk Sting Out, também lá estava. Daí por uns anos, criticar-me-ia publica e severamente na sua revista, numa crónica enraivecida, por eu virar as costas à comunidade folk. Eu gostava do Irwin mas não conseguia identificar-me com aquela crónica. Miles Davis seria acusado de algo semelhante quando fez o álbum Bitches Brew, uma peça de música em que não seguia as regras do jazz moderno, que estava em vésperas de entrar no mercado. O disco do Miles saiu e deitou por terra as hipóteses do jazz moderno. Miles foi posto de lado pela comunidade do jazz. Não me parece que tenha ficado muito perturbado com isso. Os artistas latinos estavam igualmente a quebrar as regras. Artistas como João Gilberto, Roberto Menescal e Carlos Lyra, afastavam-se do samba infestado de percussão e criavam uma nova forma de música brasileira com alternâncias melódicas. Chamavam-lhe bossa-nova. Eu, por forma a romper com o convencional, agarrei em elementos simples do folk, injectei-lhes novo imaginário e atitude, introduzi-lhes expressões coloquiais e metáforas, combinei-as com um novo conjunto de regras, que evoluíram para algo diferente que ainda não tinha sido ouvido. Isto valeu-me a censura do Silber num artigo, como se ele e mais uns quantos tivessem as respostas para tudo. Contudo, sabia o que estava a fazer e ninguém me levaria a dar um passo atrás ou retirar-me.

Bob Dylan em Crónicas

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