Irwin Silber, editor da revista folk Sting Out, também lá estava. Daí por
uns anos, criticar-me-ia publica e severamente na sua revista, numa crónica
enraivecida, por eu virar as costas à comunidade folk. Eu gostava do
Irwin mas não conseguia identificar-me com aquela crónica. Miles Davis seria
acusado de algo semelhante quando fez o álbum Bitches Brew, uma peça de música
em que não seguia as regras do jazz moderno, que estava em vésperas de
entrar no mercado. O disco do Miles saiu e deitou por terra as hipóteses do
jazz moderno. Miles foi posto de lado pela comunidade do jazz. Não me
parece que tenha ficado muito perturbado com isso. Os artistas latinos estavam
igualmente a quebrar as regras. Artistas como João Gilberto, Roberto Menescal e
Carlos Lyra, afastavam-se do samba infestado de percussão e criavam uma nova
forma de música brasileira com alternâncias melódicas. Chamavam-lhe bossa-nova.
Eu, por forma a romper com o convencional, agarrei em elementos simples do folk,
injectei-lhes novo imaginário e atitude, introduzi-lhes expressões coloquiais e
metáforas, combinei-as com um novo conjunto de regras, que evoluíram para algo
diferente que ainda não tinha sido ouvido. Isto valeu-me a censura do Silber
num artigo, como se ele e mais uns quantos tivessem as respostas para tudo.
Contudo, sabia o que estava a fazer e ninguém me levaria a dar um passo atrás
ou retirar-me.
Bob Dylan em
Crónicas
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