Pietr O Letão
Georges Simenon
Tradução
Mascarenhas Barreto
Capa: Lima de
Freitas
Colecção Vampiro nº 145
Seria talvez exagerado pretender que, em muitos
inquéritos, nascem relações cordiais entre a polícia e aqueles que, por dever,
terá de entregar à justiça.
Quase sempre, a não ser que se trate de um antagonismo
especial, estabelece-se uma espécie de intimidade. Isso deve-se, sem dúvida, a
que, durante semanas, por vezes durante meses, polícia e malfeitor não pensam
senão um no outro.
O inquiridor encarniça-se em penetrar cada vez mais na
vida passada do culpado, tenta reconstituir os seus pensamentos, prever-lhe os
mínimos reflexos.
Ambos arriscam a pele nesta partida. E, quando se
encontram, é em circunstâncias suficientemente dramáticas para fazer fundir a
indiferença polida que, na vida quotidiana, preside às relações entre os
homens.
Muitos inspectores, depois de terem passado os maiores
trabalhos para prenderem um malfeitor, ganham-lhe afeição, vão visitá-lo à
cadeia e amparam-no moralmente até ao cadafalso.
Isto explica, em parte, a atitude dos dois homens, mal
se acharam a sós, no quarto. O hoteleiro trouxera um fogão a carvão de madeira
e ouvia-se a água cantar numa chaleira. Ao lado, entre dois copos e um
açucareiro, erguia-se uma alta garrafa de rhum.
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