Conheci um guitarrista que dizia «a minha amiga
rádio». Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A
sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam.
A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com
a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa Terra
Longínqua da rádio da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra,
reconciliou-se consigo mesmo a ouvir a rádio. Acreditava que tinha sido banido
da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando
por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida.
Sam Shepard em Crónicas Americanas
Sam Shepard em Crónicas Americanas
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