Já há algum tempo que lhe devia ter agradecido o seu
último volume de ensaios (1) e o seu conto (2) – ambos magníficos – mas os
tempos são sombrios e eu não consigo erguer-me de rosto limpo para coisas que me
requerem inteiro. a poesia que não escrevo, a pureza que o amor implica, a transparência
que a amizade exige, e outras ainda. Parece-me que já o silêncio é sem mácula –
e quebrá-lo é uma violentação.
Foi uma pena que tão mesquinhas razões impedissem a
inclusão de «Os Amantes» no seu livro, além de ser um dos seus melhores contos,
são ainda das páginas mais francas, e, portanto, mais puras, que em português
se escreveram sobre o amor – e quem não saiba ver isso nada sabe de amor nem da
arte de contar.
Carta de Eugénio
de Andrade datada de 27 de Julho de 1961 em Correspondência.
( (1) - O Poeta é um Fingidor, Edições Ática, 1961
( (2) - Trata-se de «Os Amantes» que fará parte das «Novas
Andanças do Demónio» publicado pela Portugália em Agosto de 1966 e que, segundo
Sena, deveria fazer parte de «Andanças do Demónio» editado em 1960.
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