quinta-feira, 9 de março de 2017

UM AMIGO LONGE É QUASE UM AMIGO PERDIDO


Jorge de Sena chega ao Brasil, onde ficará exilado, no dia 7 de Agosto de 1959, a fim de participar, na Universidade da Bahia, entre 10 e 21 daquele mês, no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Jorge de Sena viajou a convite do governo brasileiro razão porque não fazia parte da comitiva oficial da ditadura salazarista àquele colóquio.

Mécia, mulher de Jorge de Sena, em carta para Eugénio de Andrade, datada de 3 de Setembro de 1959, informa Eugénio de Andrade:

O Jorge continua pelo Brasil, acarinhado como nunca julgou, exausto de trabalho (relator de não sei quantas teses por dia no Colóquio), e de andar por todo o lado, ao coo, quase, de toda a gente, não tem pernas que o façam voltar para aqui. Espero-o, contudo, por toda a próxima semana.

Em carta datada de 10 de Setembro. Mécia diz a Eugénio de Andrade que Jorge de Sena não voltará a Portugal:

A confirmar-se a ficada do Jorge por lá, em breve irei também se Deus quiser. E bem me custa deixar esta terra que estimo e meia dúzia de pessoas que nela particularmente estimo também. Mas… onde o Jorge estiver bem estarei com certeza bem.

A 15 de Setembro Eugénio responde a Mécia:

Chego de Santo Tirso e encontro a sua carta.
A notícia que me dá em relação ao Jorge surpreendeu-me, entristeceu-me e alegrou-me. Fácil de entender, não é verdade?
O Jorge faz por cá muita falta. Há muito poucas pessoas com a sua coragem e categoria mental no nosso país, e cada uma que parete torna o vazio maior. Mas compreendo que não resista aos amáveis convites brasileiro – além do enriquecimento de contactos que é uma longa estadia no Brasil e, provavelmente, melhoria mesmo da situação económica, o que também +e de ponderar quando há várias crianças. Mas tenho pena – um amigo longe é quase um amigo perdido. Ou talvez não!

Em carta, datada de Assis a 27 de Julho de 1960, Sena escreve a Eugénio:

O que tem sido a minha vida no Brasil: escritos, traduções, aulas, jornalismo, viagens, um nunca respirar tão intenso, ou mais, do que já era aí, não saberá V. exactamente; mas calculará que o meu silêncio, apenas quebrado por cartas a editora, e deixando sem notícias os melhores Amigos, não pode deixar de significar uma vida assim. Neste momento, estou a cinco dias de recomeçarem as aulas, e a oito de voar para o Recife (meia distância a que estou de Portugal), onde vou participar no Congresso da Crítica, para o qual, contra minha indicação expressa, não teráo convidado o Saraiva, o Serrão, o Simões, o Óscar, etc. acobertando-se em que o Congresso se restringe aos professores universitários,,, o que eu e o Casais aqui somos. De resto, convidaram-nos com passagens pagas, etc. – ou de outro modo eu não iria.

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