Terceira
descrição de António Gedeão a caminho das Termas da Curia e onde ressalta o seu
estimado gosto por comboios.
Mas isto sou eu a pensar, sentado aqui na carruagem
pouco arejada deste comboio que nos irá levar à estação da Curia. Saímos há
pouco de Lisboa, será uma viagem de, aproximadamente, três horas. Gosto muito
de andar de comboio. Muito mais do que andar de avião, embora já tenha feito
muitas viagens nessas aves mecânicas,
gigantescas e velozes, Gosto deste ramerrão continuado, do deslizar das rodas
de aço nos carris, gosto desse guincho metálico, pesaroso, gosto de ver as
pessoas coabitar tão pacificamente na estreita atmosfera da carruagem, gosto de
ver as pessoas comer e oferecer e trocar peças de fruta e pastéis de bacalhau,
uns goles de vinho tinto, gosto das trocas dos olhares oblíquos e dos
agradecimentos de banco para banco, trocam tudo, aqui de repente, unidas as
pessoas pelo sentimento comum de se verem obrigadas a repartir algumas
conversas, algumas lembranças, alguns gostos e desgostos.
Cristina Carvalho
em Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito
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