Fiesta
Ernest Hemingway
Tradução: Jorge
de Sena
Capa: José
Antunes
Colecção Universal
Unibolso nº 46
Editores
Associados, Lisboa s/d
Pela manhã desci o boulevard até à Rue Soufflot para tomar café e um brioche. Estava
uma manhã linda. Os castanheiros dos jardins do Luxemburgo estavam em flor.
Sentia-se a agradável expectativa matinal de um dia quente. Com o café, li os
jornais e depois fumei um cigarro. As floristas vinham do mercado, compondo o
fornecimento quotidiano. Estudantes subiam a rua para a Faculdade de Direito ou
desciam para a Sorbona, O boulevard estava cheio do movimento dos carros
e de gente a caminho do trabalho. Meti-me num autocarro S e fui até à
Madeleine, de pé na plataforma traseira. Da Madeleine, passeei-me pelo
Boulevard des Capucines até à Ópera, e dirigi-me para o meu escritório.
Cruzei-me com o homem das rãs saltadoras e o homem dos bonecos que jogam o
boxe. Desviei-me para não passar por cima do fio com que a rapariga ajudante
fazia mexer os pugilistas. Ele nem olhava, segurando o fio nas mãos fechadas. O
homem incitava dois turistas a que comprassem. Três turistas mais tinham parado
a ver. Segui atrás de um homem que empurrava um cilindro que imprimia a palavra
«CINZANO» no passeio, em húmidas letras. Passava gente para o trabalho,
constantemente. Sabia bem ir para o trabalho. Atravessei a avenida e virei para
o meu escritório.
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