terça-feira, 14 de março de 2017

OLHAR AS CAPAS


Fiesta

Ernest Hemingway
Tradução: Jorge de Sena
Capa: José Antunes
Colecção Universal Unibolso nº 46
Editores Associados, Lisboa s/d

Pela manhã desci o boulevard até à Rue Soufflot para tomar café e um brioche. Estava uma manhã linda. Os castanheiros dos jardins do Luxemburgo estavam em flor. Sentia-se a agradável expectativa matinal de um dia quente. Com o café, li os jornais e depois fumei um cigarro. As floristas vinham do mercado, compondo o fornecimento quotidiano. Estudantes subiam a rua para a Faculdade de Direito ou desciam para a Sorbona, O boulevard estava cheio do movimento dos carros e de gente a caminho do trabalho. Meti-me num autocarro S e fui até à Madeleine, de pé na plataforma traseira. Da Madeleine, passeei-me pelo Boulevard des Capucines até à Ópera, e dirigi-me para o meu escritório. Cruzei-me com o homem das rãs saltadoras e o homem dos bonecos que jogam o boxe. Desviei-me para não passar por cima do fio com que a rapariga ajudante fazia mexer os pugilistas. Ele nem olhava, segurando o fio nas mãos fechadas. O homem incitava dois turistas a que comprassem. Três turistas mais tinham parado a ver. Segui atrás de um homem que empurrava um cilindro que imprimia a palavra «CINZANO» no passeio, em húmidas letras. Passava gente para o trabalho, constantemente. Sabia bem ir para o trabalho. Atravessei a avenida e virei para o meu escritório.

Sem comentários: