O Barbeiro Cego
John Dickson
Carr
Tradução:
Correia Ribeiro
Capa: Cândido
Costa Pinto
Colecção Vampiro
nº 67
Livros do
Brasil, Lisboa, s/d
Quando o paquete «Queen Victoria» partiu de Nova
Iorque, com destino a Southampton e Cherburgo dizia-se que estavam a bordo duas
personalidades muito conhecidas e constava que uma terceira pessoa, altamente
cotada, viajava no mesmo navio. Além destas, havia uma quarta personagem, aliás
imperceptível, que irá ocupar papel bastante importante nesta turbulenta e
complexa crónica. Embora não o soubesse,
este indivíduo tinha na sua bagagem algo de mais valiosos do que as marionetes
de M. Fortinbras ou o elefante de esmeralda de Lord Sturton, o que explica parcialmente
a razão por que havia no seráfico interior do «Queen Victoria» enigmas, distracções
e negócios estranhos, totalmente em desacordo com o padrão habitual.
Não há na marinha mercante britânica navio que ostente
maior dignidade do que o «Queen Victoria» a flâmula da sua companhia de
navegação. É o que geralmente se chama um barco «familiar», o que quer dizer
que não são permitidas manifestações de hilaridade nos seus salões, depois das
onze horas da noite e todas as alterações de tempo motivadas pela travessia dos
oceanos, são escrupolosamente observadas, de modo que o bar fecha sempre três
quartos de hora antes dos nossos cálculos, o que normalmente nos obriga a
praguejar. Passageiros melancólicos, sentados na sala de leitura, de luz
semivelada, parecem redigir cartas para parentes já falecidos. No grande salão
de ornamentação pesada, conversa-se em voz baixa a faz-se malha diante de luzes
eléctricas arranjadas de modo a imitar uma lareira. Há certo arremedo de
alegria quando uma orquestra, composta por músicos graves e taciturnos, toca na
galeria da sala das refeições, à hora do almoço e do jantar.
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