sexta-feira, 31 de março de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Barbeiro Cego

John Dickson Carr
Tradução: Correia Ribeiro
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 67
Livros do Brasil, Lisboa, s/d

Quando o paquete «Queen Victoria» partiu de Nova Iorque, com destino a Southampton e Cherburgo dizia-se que estavam a bordo duas personalidades muito conhecidas e constava que uma terceira pessoa, altamente cotada, viajava no mesmo navio. Além destas, havia uma quarta personagem, aliás imperceptível, que irá ocupar papel bastante importante nesta turbulenta e complexa crónica.  Embora não o soubesse, este indivíduo tinha na sua bagagem algo de mais valiosos do que as marionetes de M. Fortinbras ou o elefante de esmeralda de Lord Sturton, o que explica parcialmente a razão por que havia no seráfico interior do «Queen Victoria» enigmas, distracções e negócios estranhos, totalmente em desacordo com o padrão habitual.
Não há na marinha mercante britânica navio que ostente maior dignidade do que o «Queen Victoria» a flâmula da sua companhia de navegação. É o que geralmente se chama um barco «familiar», o que quer dizer que não são permitidas manifestações de hilaridade nos seus salões, depois das onze horas da noite e todas as alterações de tempo motivadas pela travessia dos oceanos, são escrupolosamente observadas, de modo que o bar fecha sempre três quartos de hora antes dos nossos cálculos, o que normalmente nos obriga a praguejar. Passageiros melancólicos, sentados na sala de leitura, de luz semivelada, parecem redigir cartas para parentes já falecidos. No grande salão de ornamentação pesada, conversa-se em voz baixa a faz-se malha diante de luzes eléctricas arranjadas de modo a imitar uma lareira. Há certo arremedo de alegria quando uma orquestra, composta por músicos graves e taciturnos, toca na galeria da sala das refeições, à hora do almoço e do jantar.

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