Três décadas mais tarde, em 1997, a Vogue alemã
pediu-me para entrevistar Paul Bowles em Tânger. Fiquei com sentimentos
contraditórios em relação à minha tarefa, pois foi-me mencionado que ele estava
doente. Mas asseguraram-me que tinha concordado prontamente e que essa situação
não o perturbaria. Bowles vivia num apartamento de três assoalhadas, num prédio
de linhas simples e modernas doas anos 50 de uma zona residencial. Uma pilha
alta de baús e malas com marcas de muitas viagens formavam uma coluna à
entrada. Havia livros a forrar as paredes e os átrios, alguns que eu já
conhecia e outros que gostava de conhecer. Ele estava sentado na cama,
encostado à cabeceira, com um robe leve de xadrez vestido e o seu rosto pareceu
iluminar-se quando entrei no quarto.
Agachei-me, tentando encontrar uma posição simpática
naquele espaço estranho. Começámos por falar da mulher, Jane, já falecida, mas
cujo espírito parecia pairar por todo o lado. E ali estava eu a mexer nas minhas
tranças e a falar de amor. Perguntei-me se ele estaria realmente a ouvir.
- Anda a escrever alguma coisa? Perguntei eu.
- Não, já deixei de escrever.
- E como se sente agora? – inquiri eu.
- Vazio – respondeu ele.
Patti Smith em M Train
Legenda: Paul Bowles com Patti Smith
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