Quando o Fred morreu, celebrou-se missa em sua honra
na Mariner’s Church, em Detroit, a mesma igreja onde nos tínhamos casado.
Na noite da missa, o meu irmão Todd veio ter comigo a
minha casa mas eu ainda estava deitada.
- Não condigo – disse-lhe
- Tens de ir – disse ele com firmeza, e abanou-me até
eu sair daquele torpor, ajudou-me a vestir e levou-me à igreja. Pensava no que
havia de dizer quando se começou a ouvir no rádio a canção «What a Wonderful
World». Sempre que a ouvia o Fred dizia: Trisha, é a tua canção. Porque é que
tem de ser a minha canção?, dizia eu a protestar. Nem sequer gosto do Louis
Armstrong. Mas ele insistia que aquela era mesmo a minha canção. Parecia ser um
sinal do Fred, por isso decidi cantar «What a Wonderful World» a capella na
missa. À medida que cantava ia sentindo a beleza simples da canção, mas
continuava sem perceber a razão por que ele a ligava a mim, uma pergunta que
demorei tempo de mais a fazer-lhe. Agora a canção é tua, disse eu, dirigindo-me
ao lento infinito da morte. Parecia que o mundo tinha ficado desprovido de
encanto. Não consegui escrever poemas de emoção. Não vi o espírito do Fred
perante mim nem senti a trajetória rodopiante da sua viagem.
Patti Smith
em M Train
Legenda: Fred no
Dia do pai, Lake Ann, Michigan
Sem comentários:
Enviar um comentário