terça-feira, 21 de março de 2017

O PAI DO MEU PAÍS


O Bob Dylan é o pai do meu país. O Highway 61 Revisited e o Bringing It All Back Home eram não apenas grandes álbuns, mas também, tanto quanto me lembrava, as gravações que, pela primeira vez, me haviam exposto a uma visão verosímil do sítio onde morava. A escuridão e a luz estavam lá, e o véu de ilusão e engano fora posto de parte. Ele revelou a educação estupidificante e a rotina diária que encobriam a corrupção e a podridão. O mundo por ele descrito estava à vista de todos, como por exemplo, na minha cidadezinha, bem como na televisão que entrava nas nossas casas, mas prosseguia sem comentários e era tolerado em silêncio. Ele inspirou-me e deu-me esperanças. Fez as perguntas que mais ninguém fez por modo, em especial na



perspetiva de um rapaz de 15 anos How does it feel to be on your own? Abrira-se uma fenda sísmica entre gerações e sentíamo-nos, de repente, órfãos, abandonados, no fluxo da História, as nossas bússolas avariadas, sem-abrigo dos sentimentos. O Bob apontou corretamente o Norte e fez as vezes de farol para nos ajudar a descobrir o caminho por entre o novo caos em que a América se tornara. Ele hasteou uma bandeira, escreveu as canções, cantou as palavras essenciais à época e para, naquele momento, a sobrevivência emocional e espiritual de muitos jovens americanos.

Bruce Springsteen em Born to Run

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