Num domingo, o Frank apareceu na sala com uma guitarra
em vez do acordeão. Tocou os maiores êxitos da música popular do momento. Na
altura o boom da música popular
estava no auge. Hootenanny era um programa de prime-time na
televisão e o Frank até estava a tocar bastante bem. Nesse fim-se-semana,
sentou-se no chão da sala de estar, com uma t-shirt branca, meias pretas, umas
calças chino pretas e uns ténis brancos (achei que nunca tinha visto ninguém
assim de perto com um ara tão fixe e, mal cheguei a casa, tentei logo imitar
aquele look.) Ele estava a safar-se muito melhor do que eu. Levou-me
para o quarto, ensinou-me a afinar a guitarra, ensinou-me a ler tablaturas de
uma colecção de música popular americana, deu-me o livro e mandou-me para casa.
Afinei a guitarra o melhor possível e percebi imediatamente que tinha de
começar do zero. Todas as minhas «músicas» desafinadas estavam agora a revelar
a grande porcaria que eram. Abri o livro, procurei o «Greensleeves», li o
acorde inicial em mi menor (só eram precisos dois dedos) e pus mãos à obra. Já
era um começo. Nos meses seguintes, aprendi a maioria dos acordes maiores e
menores; consegui desbravar terreno e tocar muitos standards da música
popular; mostrei à minha mãe o que já tinha conseguido, para que ela me encorajasse;
depois com os acordes de dó, fá e sol, consegui tocar o «Twist and Shout». Foi
a minha primeira canção de rock’n’roll. Disse adeus ao Bruce jardineiro e
ao único emprego a sério que iria ter durante toda a vida. Well shake itu p,
baby!
Bruce Springsteen em Born To Run
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