Raul Brandão é
um dos escritores abordados na troca de Correspondência entre José Saramago e
José Rodrigues Miguéis.
José Rodrigues
Miguéis, carta datada de 10 de Abril de 1961, informa que mandou para a Gazeta
Musical e de Todas as Artes, um artigo sobre Raul Brandão.
Em carta, datada
de 12 de Maio de 1961, Saramago escreve:
Espero com o maior interesse o seu artigo sobre o Raul
Brandão, que é uma das maiores e mais velhas admirações minhas em literatura.
Um livro como Húmus, por exemplo, como é possível que tanta gente o ignore?
Não percebo, palavra. Falava o Régio, já aqui há tempos, no mau gosto de certas
passagens. Bolas! Sempre gostava que me dissessem onde há, nos livros do Régio,
às vezes de uma pieguice muito professor-de-liceu-em-cidade-da-província, algo
que iguale em ternura aquelas «mãos como cepos» da Joana, dessa criação única
da nossa literatura que é a mulher da esfrega! «Há sonhos humildes que ninguém
quer sonhar: servem à Joana que quando os usa os vira do avesso.» Quantas vezes
exprimiu assim a frustração um escritor português, uma frustração que nega até
o direito a sonhos próprios?...
E em outra
carta, datada de 30 de Junho de 1961, Saramago volta a Raul Brandão:
Saiu a Gazeta,
dedicada ao Raul Brandão. Esperava outra coisa. Evocações a mais, e não o
estudo lúcido que venha pôr Raul Brandão no altíssimo lugar que lhe compete. O
Joel Serrão tê-lo-á tentado, mas falta-lhe sensibilidade e também audácia de
dar às coisas os seus nomes: Raul Brandão é dos maiores criadores (não digo
escritor) da nossa literatura, se não estou enganado, como diria António
Sérgio, ou o seu discípulo Rogério Fernandes (no estilo, entenda-se). Por mim,
penso que Raul Brandão é um dos nossos pouquíssimos escritores merecedores de
exportação.
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