sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Lugar de Massacre

José Martins Garcia
Capa: José Teófilo Duarte
Círculo de Leitores, Lisboa, Junho de 1991

O aprumo do capitão quebrava-se em tais explosões. O capelão sorria, possivelmente em nome de Cristo, mas também para não voltar a São Domingos, onde cama e mesa doíam muito mais que uns palavrões encaixados na hora do jogo.
- Não posso com a vossa seita! – rosnou o capitão. – E vou-te explicar, capelão do tanas, porque é que não gramo a vossa seita. Por causa de vocês estou aqui há seis meses sem ver uma loura de verdade.
- Ora, ora… - amenizava o capelão. – Então a culpa é minha?
- É, sim senhor. Se vocês não existissem, ninguém me tinha mandado seguir a carreira das armas.
- Mas… o livre arbítrio…
- Livre arbítrio, a puta que te pariu! Fiquei órfão aos cinco anos e a minha tia, religiosa e estúpida, deu-me a escolher: ou missionário, ou guerreiro. Não quis ser padre, por causa das mulheres. Tive de ser guerreiro. Se a minha tia não fosse uma idiota, com a cabeça cheia de tretas de padres, não me tinha acontecido isto… e a esta hora eu estava com uma loura, em qualquer parte do mundo. Percebes, capelão de Belzebu?
- Ai dos fornicadores! – avisou o capelão.
- Ai do raio que te parta, digo eu! A minha tia, na sua última carta, dava graças a Deus por eu estar no mato, porque lhe chegou aos ouvidos que a tropa, nas cidades, é só andar nas putas. Estás a ver isto? Põem um  gajo no mato, sem mulher, sem um cinema, sem nada, com riscos de apanhar um tiro nos cornos… E a minha tia agradece ao Senhor, porque assim o sobrinho está livre dos pecados da carne…

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