Lugar de Massacre
José Martins Garcia
Capa: José
Teófilo Duarte
Círculo de
Leitores, Lisboa, Junho de 1991
O aprumo do capitão quebrava-se em tais explosões. O
capelão sorria, possivelmente em nome de Cristo, mas também para não voltar a
São Domingos, onde cama e mesa doíam muito mais que uns palavrões encaixados na
hora do jogo.
- Não posso com a vossa seita! – rosnou o capitão. – E
vou-te explicar, capelão do tanas, porque é que não gramo a vossa seita. Por
causa de vocês estou aqui há seis meses sem ver uma loura de verdade.
- Ora, ora… - amenizava o capelão. – Então a culpa é
minha?
- É, sim senhor. Se vocês não existissem, ninguém me
tinha mandado seguir a carreira das armas.
- Mas… o livre arbítrio…
- Livre arbítrio, a puta que te pariu! Fiquei órfão
aos cinco anos e a minha tia, religiosa e estúpida, deu-me a escolher: ou
missionário, ou guerreiro. Não quis ser padre, por causa das mulheres. Tive de
ser guerreiro. Se a minha tia não fosse uma idiota, com a cabeça cheia de
tretas de padres, não me tinha acontecido isto… e a esta hora eu estava com uma
loura, em qualquer parte do mundo. Percebes, capelão de Belzebu?
- Ai dos fornicadores! – avisou o capelão.
- Ai do raio que te parta, digo eu! A minha tia, na
sua última carta, dava graças a Deus por eu estar no mato, porque lhe chegou
aos ouvidos que a tropa, nas cidades, é só andar nas putas. Estás a ver isto?
Põem um gajo no mato, sem mulher, sem um
cinema, sem nada, com riscos de apanhar um tiro nos cornos… E a minha tia
agradece ao Senhor, porque assim o sobrinho está livre dos pecados da carne…
Sem comentários:
Enviar um comentário