quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

QUOTIDIANOS


Pedro Neves pôs o candeeiro de petróleo em cima duma cadeira poeirenta. Emagrecer, o rosto parecia alongar-se na sombra projectada na parede branca. Reprimiu um gesto, talvez uma palavra.
- Comprendo. Exponha-se o menos possível, peço-lhe. Se ninguém vem aqui…
- Não, ninguém. Só eu.
- … o esconderijo parece seguro. Mas são só dois dias, o máximo três.
Apertaram as mãos com muita força. Antes de fechar a porta, Judite voltou-se para ele.
- Que cigarros fuma?
-  Unic.
- Tem graça, são os do meu pai, Trago-os amanhã.
E sorriu.

Álvaro Guerra em Café República

O meu pai também fumava cigarros Unic, tabaco negro. Três maços por dia, cigarros que o ajudaram a viver e acabaram por o matar.

Legenda: imagem tirada de Tododcoleccion

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