Teatro I
Ti Coragem e os Seus Dois Filhos
A Boa Alma de Sé-Chuão
Bertolt Brecht
Tradução: Ilse
Losa
Poemas de Ti
Coragem e os Seus Dois Filhos traduzidos por Jorge de Sena
Poemas de A Boa
Alma de Sé-Chuão traduzidos por Alexandre O’Neill
Capa e desenho:
Tóssan
Portugália Editora,
Lisboa, 1961
A Canção do Fumo
O avô:
Em tempos, ainda não tinha eu estes cabelos brancos,
Julgava poder viver perfeitamente
Só da minha esperteza, como tantos…
Mas hoje sei: não há esperteza que sobre
Para encher o estômago dum pobre.
Portanto digo: deixa-te disso,
Olha o fumo cinzento que vai para além
De regiões frias, cada vez mais frias.
Assim vais tu também…
O homem:
Vi espancar os bons, vi espancar os justos,
E resolvi então seguir o meu caminho,
Mas por esse caminho, nós, os brutos,
Ainda mais brutos vamos ser.
Agora já não sei o que fazer.
Portanto digo: deixa-te disso,
Olha o fumo cinzento que vai para além
De regiões frias, cada vez mais frias.
Assim vais tu também…
A sobrinha:
Oiço dizer que os velhos já não esperam
Pois o tempo – e o tempo é tudo! – já lhes falta,
Que aos jovens como eu – foi o que me disseram –
A porta se oferece escancarada,
Mas disseram-me ainda: aberta sobre o nada.
E então digo também: deixa-te disso,
Olha o fumo cinzento que vai para além
De regiões frias, cada vez mais frias.
Assim vais tu também…
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