SARAMAGUEANDO
Vivemos uma época em que os comodismos eletrónicos suspenderam o hábito das cartas. Atrevo-me a dizer que, entre personalidades como estas, mas também entre amigos mais comuns, deveria haver uma recomendação universal para que o género epistolar voltasse à ordem do dia, e com alguma regularidade. No caso das figuras deste calibre, há sempre um pormenor, uma palavra, um desabafo, que virá sempre enriquecer quem as leia, mesmo que isso aconteça - como aqui - anos depois. No que toca ao amigo "humano comum", as cartas podem relembrar e ressuscitar, em caso de perda. Ora por mais que se diga tudo, e repetidas vezes, sejamos honestos e reconheçamos que apalavra escrita ganha outra força, até porque perdura quando cai o silêncio. Os amigos faltam-nos sempre, mesmo quando nunca nos falharam. Eu sinto a falta das cartas que, por preguiça ou turbilhão, não cheguei a escrever e também, muito,das que não recebi. E, afinal, trata-se apenas de emendar a mão.
João Gobern no Diário
de Notícias sobre Com o Mar Pelo Meio, correspondência entre Jorge
Amado e José Saramago
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