E já agora, se não vos deixastes dormir, meus queridos tetranetos, quando
passastes pelas últimas páginas que escrevi, vou dizer-vos qual era o meu
vencimento, ou seja, quanto é que eu ganhava, por mês, como professor.
Estas coisas dos dinheiros, do presente e do passado,
são muito pouco significativas para quem não as viveu. O dinheiro só interessa,
quantitativamente, por aquilo que se pode adquirir com ele, e não é fácil
ter-se o sentimento dessas relações. O meu pai, por exemplo, ganhava 100
escudos por mês e eu ainda há pouco dei 100 escudos, de gorjeta, por vontade
própria, ao operário que veio aqui a casa instalar uma gelosia numa janela,
para ele beber uma cerveja (e se calhar não chega) e ainda ontem comprei um
pão, grandinho, para os meus pequenos-almoços, que me custou 155 escudos.
Em 1958, depois de ter sido nomeado metodólogo, os
meus ganhos eram, por mês como professor, 4.500$00, mais a gratificação de
metodólogo, 1.000$00, mais a direcção do Gabinete de Física, 200$00, o que
perfaz 7.700$00, isto é, 5 contos e setecentos escudos, dos quais eram
descontados, para impostos, 445$20. Da direcção da Biblioteca do liceu não
recebia nenhum subsídio porque já tinha o da direcção do Gabinete de Física e
não era permitido ter dois subsídios. Recebia, portanto, 5.254$80.
Quando me aposentei, em Janeiro de 1975, ganhava
11.762$00 ilíquidos, isto é, sem atender aos inevitáveis descontos, e muito
próximo de 11.500$00, na realidade, depois dos impostos descontados. Assim, de
1958 a 1975, num intervalo de 17 anos, os meus ganhos ultrapassaram um pouco do
dobro.
Actualmente, meus queridos tetranetos, no ano de 1995
em que vos estou escrevendo, ganho, por mês, 150.873$00. Ena, pai! – dirão vocês.
Ou melhor: ena, tetravô! De 1975 a 1995, isto é, em vinte anos, saltaste de
11.500$00 para 150.873$00! Aumentaste, 13 vezes o teu vencimento, em vinte
anos! Que é que queres mais?
Rómulo de
Carvalho em Memórias
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