Pôs o livro na mesa-de-cabeceira para um destes dias o
acabar de ler, apetecendo, é seu título The god of the labyrinth, seu
autor Herbert Quain, irlandês também, por não singular coincidência, esse
sim, é singularíssimo, mas o nome, pois sem máximo erro de pronúncia se
poderia ler, Quem, repare-se, Quain, Quem, escritor que só não é desconhecido
porque alguém o achou no Highland Brigade, agora, se lá estava um único
exemplar, nem isso, razão maior para perguntarmos nós, Quem, repare-se,
Quain, Quem, escritor que só não é desconhecido porque alguém o achou no
Highland Brigade, agora, se lá estava em único exemplar, nem isso, razão maior
para perguntarmos nós, Quem. O tédio da viagem e a sugestão do título o tinham
atraído, um labirinto com um deus, que deus seria, que labirinto era, que deus
labiríntico, e afinal saíra-lhe um simples romance policial, uma vulgar
história de assassínio e investigação, o criminoso, a vítima, se pelo contrário
não preexiste a vítima ao criminosos, e finalmente o detective, todos três
cúmplices da morte, em verdade vos direi que o leitor de romances policiais é o
único e real sobrevivente da história que estiver lendo, se não é como sobrevivente
único e real que todo o leitor lê a história.
José Saramago em
O Ano da Morte de Ricardo Reis
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