segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS



Um Barco para Ítaca

Manuel Alegre
Colecção Poesia Nosso Tempo nº 2
Nosso Tempo, Águeda 1971

Penélope

Quem és tu ó estrangeiro? Quem és e donde vens?

Velho

Pode o homem ter muitos nomes e não ter nenhum
pode ter um só nome tendo muitos.
Pode ter uma pátria e já não ter nenhuma
ou tendo muitas ter uma só.
Pode ter uma pátria que nunca teve
e pode ter uma pátria que não há.

Penélope

Dizem que sabes notícias de Ulisses
dizem que és cegos mas vês.
Talvez tu saibas o onde
talvez tu saibas o quando.

Velho

Todo o homem tem um navio no coração
todo o homem tem um navio
tem um país a descobrir em cada mão
tem um rio no sangue tem um rio
todo o homem tem um navio no coração.
Todo o homem tem um onde e tem um quando
um tempo de partir um tempo de voltar
sete palmos na terra mil caminhos no mar.
Todo o homem se perde. Todo o homem se encontra.
E tem um tempo em que se mostra. E tem um tempo em que se esconde.
Todo o homem tem um por e tem um contra.
Todo o homem se perde. Todo o homem se encontra:
Todo o homem tem um quando e tem um onde.

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