Poesia, Liberdade Livre
António Ramos
Rosa
O Tempo e o
Modo, Morais Editora, Lisboa 1962
Longe de ser um poeta programático, pela genuidade da
impulsão poética, Gomes Ferreira supera todas as possíveis limitações de uma
poesia «social». O empenhamento de José Gomes Ferreira é-o da liberdade
integral de uma afirmação que não se rege por nenhum princípio que não seja o
da mesma liberdade e de uma solidariedade total com todas as vítimas, não só
dum sistema social, como da própria condição de existir, Ao asseverarmos que a
radicação desta poesia é original ou de certo modo ante-histórica, não podemos
deixar de fazer uma afirmação complementar: a de que ela é também profundamente
temporal, visto que violentamente defronta o absurdo e a alienação social
presente. Denúncia ou acusação são decerto termos justos para indicar a forma
como essa defrontação se dá. Contudo, não definem o carácter específico com que
na sua poesia se opera essa forma de presentificação ascendente e intensiva que
assume a energia da sua palavra poética. É que tal denúncia ou acusação não é
suficientemente limitada a um contexto social e a potência imaginativa da
palavra de Gomes Ferreira, arrancando de uma inconformidade original, transborda
todos os limites e alarga-se a um espaço cósmico, que mesmo sem implicações de
transcendência, ganha ressonâncias apocalípticas e proféticas.
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