terça-feira, 9 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Espingardas e Música Clássica

Alexandre Pinheiro Torres
Prefácio: Luís de Sousa Rebelo
Capa: Henrique Cayatte
Editorial Caminho, Lisboa, setembro de 1987

Perde, de repente, a sua capacidade de êxtase perante o divino da Natureza. A alma, para a amar, não precisará de razão? Para quê olhar o Tâmega? Todos os rios de Portugal, se não são ainda o Tâmega, não acabarão por ser o Tâmega? O rio da minha aldeia de Alberto Caeiro, no poema que Teresa tanto gostava de recitar, não seria o Tâmega? Pascoaes detestava o rio Tamisa porque Tamisa era uma tradução, em bárbaro, da palavra Tâmega. Do Tâmega, como muitas vezes previa a D. Maria da Graça no seu ataque às hidroeléctricas que planeavam não uma, como se dizia, mas nove barragens no rio, sairiam as caravelas do futuro.
As margens encher-se-iam de marinheiros ávidos de encontrar uma ilha que se tivesse salvo da catástrofe. Talvez a ilha dos Frades, se a água a não subvertesse. Se resistisse chamar-lhe-ia, para sempre, a Ilha dos Amores.
Odete, com a inconsciência da juventude, entra na sala a cantarolar alegre:
«Deseja alguma coisa senhor presidente da Câmara?»
«Não me chames presidente da câmara enquanto eu não tomar posse.»
Bebe rapidamente outro conhaque enquanto fita os olhos da rapariga.
«Chega-te aqui», ordena.
Odete aproxima-se curiosa. Que lhe quererá o senhor doutor juiz? Mas Tadeu de Albuquerque não tem que lhe responder. Agarra-a e beija-a avidamente na boca. Ali estava a sua ninfa. Não era precisos esperar pelo futuro.

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