Espingardas e Música Clássica
Alexandre
Pinheiro Torres
Prefácio: Luís
de Sousa Rebelo
Capa: Henrique
Cayatte
Editorial
Caminho, Lisboa, setembro de 1987
Perde, de repente, a sua capacidade de êxtase perante
o divino da Natureza. A alma, para a amar, não precisará de razão? Para quê
olhar o Tâmega? Todos os rios de Portugal, se não são ainda o Tâmega, não acabarão
por ser o Tâmega? O rio da minha aldeia de Alberto Caeiro, no poema que Teresa
tanto gostava de recitar, não seria o Tâmega? Pascoaes detestava o rio Tamisa
porque Tamisa era uma tradução, em bárbaro, da palavra Tâmega. Do Tâmega, como
muitas vezes previa a D. Maria da Graça no seu ataque às hidroeléctricas que
planeavam não uma, como se dizia, mas nove barragens no rio, sairiam as
caravelas do futuro.
As margens encher-se-iam de marinheiros ávidos de
encontrar uma ilha que se tivesse salvo da catástrofe. Talvez a ilha dos
Frades, se a água a não subvertesse. Se resistisse chamar-lhe-ia, para sempre,
a Ilha dos Amores.
Odete, com a inconsciência da juventude, entra na sala
a cantarolar alegre:
«Deseja alguma coisa senhor presidente da Câmara?»
«Deseja alguma coisa senhor presidente da Câmara?»
«Não me chames presidente da câmara enquanto eu não
tomar posse.»
Bebe rapidamente outro conhaque enquanto fita os olhos
da rapariga.
«Chega-te aqui», ordena.
Odete aproxima-se curiosa. Que lhe quererá o senhor
doutor juiz? Mas Tadeu de Albuquerque não tem que lhe responder. Agarra-a e
beija-a avidamente na boca. Ali estava a sua ninfa. Não era precisos esperar
pelo futuro.
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