quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Há longos anos de portas entaipadas, o espaço que foi o Quarteto - «Quatro salas, Quatro filmes», vai ser ocupado para um espaço de escritórios, não importa de quê.

A notícia, via Lusa, foi conhecida nos primeiros meses do ano que findou.

Ontem, passei por lá, ali na Rua Flores do Lima nº 16.

Estão mesmo a decorrer obras.

Um cinema que marcou uma época.

Restam as memórias.

O Quarteto abriu portas no dia 21 de Novembro de 1975, faltavam escassos dias para acontecer a data que marca a história recente do país, houve alguém que se enganou, um sonho lindo que acabou, uma história, ainda, muito mal contada.

Taxi Driver de Martin Scorcese, A Religiosa de Jacques Rivette, All That Jazz de Bob Fosse, exibido em simultâneo nas 4 salas, e tantos, tantos outros filmes.

O último filme que vi no Quarteto, já em condições deploráveis de projecção, as alcatifas cheias de peladas, um silêncio triste, foi Às Segundas ao Sol de Fernando Léon Aranoa, que toma como ponto de partida  um despedimento colectivo ocorrido nos estaleiros de Gijón, no principio da década de 90, e conta a história de um grupo de desempregados desse estaleiro naval, uma história de desempregados, homens condenados à clandestinidade, a amargura muda remoída em cada dia, solidariedades, «como siameses: um cai, o outro ri-se, antes de perceber que caiu também»., de casa para a taberna, da taberna para casa, segundas ao sol, à espera de um golpe de asa que nunca vem.

«A questão não está se nós acreditamos em Deus. A questão é se Deus acredita em nós. Em mim, estou certo que Ele não acredita. Em ti tão pouco, Santa.»

O Quarteto foi a possibilidade de ver cinema, cinema mesmo, para além da parva ditadura das distribuidoras portuguesas de então.

Uma ideia feliz de Pedro Bandeira Freire que entregou o projecto de construção ao Arqt.º Nuno San-Payo.

O edifício era constituído por quatro salas, com lotação de 716 lugares, distribuídas pela cave e 1º andar, à entrada do lado esquerdo ficava a bilheteira, no lado direito o Bar.

O aparecimento das salas pipocas nos Centros Comerciais ditou a decadência do Quarteto.

A 16 de Novembro de 2007, o espaço foi encerrado no seguimento de uma vistoria da Inspecção-Geral das Actividades Culturais.

Não reunia as condições de segurança exigida.

Pedro Bandeira Freire morreu a 16 de Abril de 2008.

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