Há longos anos
de portas entaipadas, o espaço que foi o Quarteto - «Quatro salas, Quatro
filmes», vai ser ocupado para um espaço de escritórios, não importa de quê.
A notícia, via
Lusa, foi conhecida nos primeiros meses do ano que findou.
Ontem, passei por lá, ali na Rua Flores do Lima nº 16.
Estão mesmo a
decorrer obras.
Um cinema que
marcou uma época.
Restam as
memórias.
O Quarteto abriu portas no dia 21 de Novembro de 1975, faltavam escassos dias para acontecer a data que marca a história recente do país, houve alguém que se enganou, um sonho lindo que acabou, uma história, ainda, muito mal contada.
O Quarteto abriu portas no dia 21 de Novembro de 1975, faltavam escassos dias para acontecer a data que marca a história recente do país, houve alguém que se enganou, um sonho lindo que acabou, uma história, ainda, muito mal contada.
Taxi Driver
de Martin Scorcese, A Religiosa de Jacques Rivette, All That Jazz
de Bob Fosse, exibido em simultâneo nas 4 salas, e tantos, tantos outros filmes.
O último filme
que vi no Quarteto, já em condições deploráveis de projecção, as alcatifas cheias de peladas, um silêncio triste, foi Às Segundas ao Sol de Fernando Léon Aranoa, que toma como ponto de partida um despedimento colectivo ocorrido nos
estaleiros de Gijón, no principio da década de 90, e conta a história de um
grupo de desempregados desse estaleiro naval, uma história de
desempregados, homens condenados à clandestinidade, a amargura muda remoída em
cada dia, solidariedades, «como siameses: um cai, o outro ri-se, antes de
perceber que caiu também»., de casa para a taberna, da taberna para casa,
segundas ao sol, à espera de um golpe de asa que nunca vem.
«A questão não
está se nós acreditamos em Deus. A questão é se Deus acredita em nós. Em mim,
estou certo que Ele não acredita. Em ti tão pouco, Santa.»
O Quarteto foi a
possibilidade de ver cinema, cinema mesmo, para além da parva ditadura das distribuidoras
portuguesas de então.
Uma ideia feliz de
Pedro Bandeira Freire que entregou o projecto de construção ao Arqt.º Nuno San-Payo.
O edifício era
constituído por quatro salas, com lotação de 716 lugares, distribuídas pela cave
e 1º andar, à entrada do lado esquerdo ficava a bilheteira, no lado direito o
Bar.
O aparecimento
das salas pipocas nos Centros Comerciais ditou a decadência do Quarteto.
A 16 de Novembro
de 2007, o espaço foi encerrado no seguimento de uma vistoria da
Inspecção-Geral das Actividades Culturais.
Não reunia as
condições de segurança exigida.
Pedro Bandeira
Freire morreu a 16 de Abril de 2008.
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