No dia 13 de Fevereiro de 1965, Humberto Salgado foi
assassinado pela PIDE.
Apesar de um julgamento farsa – Mário Dionísio em Outubro de
1978 perguntava: «Mas o caso do assassínio de Humberto Delgado (e de sua secretária)
está a ser julgado? Finalmente julgado? Julgado mesmo?») - sabemos hoje
os nomes dos responsáveis, dos que executaram o crime.
Desde a primeira hora a ditadura pretendeu, por todos os
meios, fazer passar para a opinião pública a ideia de que o assassínio de
Humberto Delgado fora obra dos comunistas.
Este recorte do Diário da Manhã de 31 de Março de
1968, pela enésima vez, martelava na mesma tecla.
Acontecera já o apoio da Brigada do
Reumático, teria que existir, para reforçar ainda mais a posição do
regime, uma manifestação popular.
Sportinguista que era, Marcelo Caetano entendeu, ou alguém
por ele, deslocar-se ao Estádio José Alvalade para assistir ao
Sporting-Benfica, a contar para a 26ª jornada do Campeonato Nacional da lª Divisão,
e receber a tal manifestação popular.
No dia seguinte os jornais falavam de caloroso e vibrante
acolhimento.
Diz quem lá esteve, que também houve assobios e vaias mas as
palmas e os vivas ouviram-se melhor, principalmente vindos da bancada central,
pejada de viscondes, pides e outros convidados.
Quantos dos que depois andaram, no 25 de Abril pelas ruas de
Lisboa a saudar a revolução, não estiveram naquela tarde de domingo a aplaudir
vibrantemente Marcelo Caetano?
Por fim, registe-se que o Benfica venceu o Sporting por 5 a
3, golos de Yazalde (2) e Dé pelo Sporting, enquanto pelo Benfica marcaram Nené
(2), Humberto Coelho, Jordão e Vítor Martins.
Em representação
das famílias de muitos presos políticos, venho aqui saudar os republicanos e
democratas reunidos em congresso e fazer votos pelo melhor êxito dos seus
trabalhos.
É também em seu
nome que lanço um apelo, a todos os presentes, para que não sejam esquecidos aqueles
patriotas que penam nas cadeias políticas de Portugal pelo crime de serem
verdadeiros e coerentes democratas, empenhados em servir a causa da República e
da Liberdade.
Lembramos a todos
vós a situação dramática em que se encontram, provocada por um regime
duríssimo, que parece concebido para alcançar, lenta mas eficazmente, a sua
ruína física e psíquica. Privados não só da liberdade, mas de um mínimo de
convívio com as suas famílias, de quem nunca se podem aproximar; cortados de
todos os contactos com os amigos e parentes afastados; sofrendo limitações de
toda a ordem no que respeita a informação e cultura; sujeitos a uma humilhante
tutela, a uma contínua e opressiva vigilância e a castigos arbitrários; muitos
com a saúde abalada, não só pelo regime desumano a que estão submetidos, mas
ainda por anos e anos de cadeia, com alimentação e assistência médica deficientes;
e a maioria sujeitos a medidas de segurança e portanto vivendo na incerteza
quanto á hora da sua libertação,
(Mensagem lida por
Aida Magro, em representação de um grupo de famílias de presos políticos).
Com a lotação
esgotada desde muitos dias antes, o Coliseu transforma-se num imenso coro de
cinco mil vozes dispostas a cantar bem alto o outro lado da realidade
permitida. Há agentes da Pide por todo o lado, ninguém o ignora. O espectáculo
tarda a começar porque Adriano não tinha enviado os textos ao «exame prévio» da
Censura. A situação acabará por resolver-se graças a dois censores
«casualmente» de serviço na plateia do Coliseu que, ali mesmo, decidem quais os
temas que podem ou não ser ouvidos.
Quando finalmente
tem início o «desfile», é a apoteose. Primeiro com alguns equívocos, como
aconteceu durante a primeira parte da actuação de José Carlos Ary dos Santos
recebida com uma chuvada de apupos por parte do público. Mas a força da sua
poesia impôs-se e quando debitou «SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na
pele» já ninguém tinha dúvidas de que aquele homem era efectivamente dos
nossos…
Depois foi o grande
coro colectivo, a culminar com os cinco mil espectadores, de pé, a versos de
«Grândola Vila Morena», ironicamente a única canção Zeca a passar integralmente
as malhas da Censura. E é o seu grande impacto na noite de 29 de Março que irá determinar
a sua escolha para senha do Movimento
das Forças Armadas, na noite de 24 para 25 de Abril.
Para cima de cinco
mil encheram por completo o Coliseu dos Recreios em Lisboa e assistiram a algo
que lhes marcou as vidas.
Tinha acontecido o
16 de Março, a confusão instalada, alguns a dizerem dizer que estava para breve,
muitos, tantas vezes esperançados e depois frustrados a não acreditarem.
Naquela noite de
emoções várias, passadas as portas do Coliseu, poderíamos pensar que talvez se
aproximasse, assim como o poeta dissera à rapariga, o tal dia em que a Primavera
se soltaria no País de Abril.
Assim foi.
De uma vez só, ficámos a saber que o acto de cantar é um acto que responsabiliza a pessoa que
canta e as que o escutam.
Estas são as palavras introdutórias que Mário
Contumélias, sobre esta noite, escreveu para o Cinéfilo de 6 de Abril de 1974
A coisa
chamava-se – chamou-se o I Encontro da Canção. Estavam marcados para se
encontrar com a malta o Quarteto de Marcos Resende, o duo Carlos Alberto Moniz
e Maria do Amparo, Manuel José Soares, Carlos Paredes (com Fernando Alvim); o
conjunto espanhol Vino Tinto, que a televisão já vira; Pablo Guerreiro; Ary dos
Santos; José Barata Moura; Manuel Freire; Fernando Tordo; José Jorge Letria; o
conjunto Intróito; Adriano Correia de Oliveira; José Afonso; Ruy Mingas e Paulo
de Carvalho; cá por mim fui lá, por dever de ofício, a contar com uma grande
estopada. Não que, de um modo geral, eu estivesse com dúvidas sobre a
importância da maioria dos convidados no contexto da nova canção portuguesa
(embora não percebesse muito bem o que iriam lá fazer dois ou três dos que eram
para – e acabaram por estar e não – estar presentes. Nada disso. O que eu temia
era que, no meio da confusão, a coisa resultasse numa pepineira intragável. Mas
fui! E agora que aquilo já passou, há uns dias largos, ainda guardo em mim uma
grande emoção. Fosse lá porque fosse, naquela noite, no Coliseu, senti-me. E
isso não nos acontece todos os dias. Isso é importante!
Marcelo Caetano proferiu, hoje,
através da rádio e da televisão, mais uma das suas Conversas em Família.
Não há
uma única palavra sobre os acontecimentos ocorridos no dia 16 de Março e, muito naturalmente, tão pouco refere o ambiente que se vive no seio dos oficiais das Forças Armadas.
Algumas passagens
dessa última conversa:
Desde meados de
Fevereiro até agora tenho recebido de todos os recantos do País, de aquém e
além -mar, milhares de mensagens de apoio, de incitamento, de estímulo. Tantas
que não é possível acusar aos remetentes a sua recepção. Nem sequer responder
às centenas de cartas de pessoas amigas, algumas delas tão comoventes. Fica
aqui o meu agradecimento a todos. Deus permita que eu seja sempre digno da
confiança dos bons portugueses. Por isso me tenho esforçado.
(…)
De todas as infâmias que os adversários da nossa presença em África têm posto a
correr contra nós e alguns portugueses infelizmente repetem, confesso que me
fere mais a de que defendemos o Ultramar para favorecer os grandes interesses
capitalistas.
(…)
Os soldados que em
África se batem, defendem valores indestrutíveis, e uma causa justa. Disso se
devem orgulhar e por isso os devemos honrar.
(…)
E, não tenhamos
dúvidas, se alguma fórmula socialista viesse a estabelecer-se no Ocidente – do que
Deus nos defenda! – não seria o anarquismo romântico nem sequer a social
democracia conformista, mas sim um colectivismo tirânico, cuja ditadura levaria
muitos anos a evoluir para regimes mais humanos.
(…)
Enquanto ocupar
este lugar mão deixarei de os ter presentes, aos portugueses do Ultramar, no
pensamento e no coração. Procuremos as fórmulas justas e possíveis para a
evolução das províncias ultramarinas, de acordo com os progressos que façam e
as circunstâncias do Mundo: mas com uma só condição, a de que a África
portuguesa continue a ter a alma portuguesa e que nela prossiga a vida e a obra
de quantos se honram e orgulham de portugueses ser!
A Associação José Afonso e a Casa
da Imprensa reeditam amanhã, no Coliseu de Lisboa, o I
Encontro da Canção Portuguesa que a 29 de Março de 1974 juntou nomes
como José Ary dos Santos, Fernando Tordo, Manuel Freire, Fausto, Zeca Afonso e
Adriano Correia de Oliveira. O espetáculo terá lugar a 28 de março deste ano,
no Coliseu de Lisboa.
Em 1974, mais de cinco mil pessoas assistiram ao I Encontro da Canção Portuguesa,
sob forte vigilância da polícia. Grândola, Vila Morena, canção de
José Afonso (incluída emCantigas do Maio, de 1971, e interpretada pela
primeira vez ao vivo em Santiago de Compostela, na Galiza) foi então entoada
espontaneamente pela audiência e, posteriormente, escolhida por militares como
uma das senhas de arranque da Revolução dos Cravos.
Excerto da crónica-reportagem que Mário Contumélias escreveu
para o Cinéfilo nº 27 de 6-12 de Abril de 1974:
Quando, depois do Adriano
acabar de cantar, José Afonso se aproximou do microfone, as palmas rebentaram.
Venho aqui cantar uma canção GRÂNDOLA, disse Zeca.
Cerraram-se as luzes, e toda a sala, todos os 5 mil, de pé entoaram em
coro os versos da canção. Braços dados, corpos balanceando, pés batendo no
chão.
Quando o Zeca acabou, o
público ficou lá, erguido ainda, nos camarotes, na galeria, na plateia, na
geral, em todo o lado onde cabia mais um.
Estas são as canções e os participantes que, amanhã, farão reviver aquela
noite única de Março de 1974:
A manchete de hoje
do Diário de Notícias revela como o grupo GPS, que está a ser investigado por
suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito, teve onze das suas 25 escolas
apoiadas no ano passado. Ministério da Educação transferiu 172,7 milhões para
593 privados, do pré-escolar ao secundário. Só os 80 colégios com contrato de
associação ficaram com 90% do financiamento, para 1841 turmas.
Contuboel, 12 de Janeiro de 1966 – Ontem o nosso batalhão Sete de
Espadas, sofreu dez mortos numa emboscada. Tinha ficado com o meu pelotão na
base, para montar a segurança e dar apoio logístico, quando, pouco depois de
terem partido para uma operação no mato do Caresse, de ninguém e de muita
pancada, se ouviram grandes rebentamentos na direcção que tinham tomado. Uma
hora e pouco mais tarde, chegou uma viatura com os mortos a trouxe-mouxe sobre
o estrado da carroçaria. Tinham morrido ali como tordos. Depois de os
guerrilheiros terem lançado algumas granadas defensivas para o interior da GMC.
Fiquei encarregado de transportar aquela carne humana para Fajonquito, sede de
uma companhia também pertencente ao nosso batalhão.
Portugal é um dos quatro países (Grécia, Roménia e Letónia) que mais
reduziu a despesa social em 2011 e 2012, de acordo com o relatório sobre
emprego e desenvolvimento social na Europa divulgado pela Comissão Europeia
tendo os cortes chegado a 5%.
Pelo tempo em que o comprei, pelo tempo em que o li, pelo tempo em
que pressenti que por ali andava coisa boa, mas só muito lá para a frente dos
anos se saberia que ao autor lhe atribuiriam o Nobel da Literatura.
Na minha visita quase semanal, à Frenesi Loja, topei com
um informe de que está à venda a 1ª edição do Manual de Pintura e Caligrafia pelo preço de 180,00
euros, com a garantia de bom estado e miolo limpo, e a Frenesi nunca engana quem por
lá passa ou encontra os proprietários, aos sábados, no Chiado, junto à Bertrand.
Interessante o acrescento de Joana Varela, que os livreiros
colocam na apresentação do volume, e que termina com um tímido recomendável.
Das fichas de leitura do serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação
Calouste Gulbenkian, assinada por Joana Varela em 1984:
«Se José Saramago quisesse ser exacto e gostasse de desvendar segredos, em vez
de “Manual de pintura e caligrafia”, chamaria muito simplesmente ao seu livro
“Manual de vida”, porque, no fundo, é só disso que se trata: Um pintor de
retratos da alta burguesia lisboeta, H., começa simultaneamente o retrato
“oficial” de S., administrador de uma empresa, um retrato clandestino onde
procura pôr o que no primeiro se escapa e uma espécie de diário. A como que
finura que o segundo retrato instala na sua pintura, é homóloga da finura da
reflexão que a escrita inaugura – e ambas tendem para a ruptura: do modo de
vida, do modo de arte, do modo de pensamento. Tudo acaba por convergir numa
teoria, aliás por diversas vezes expressa no livro: toda a literatura é
autobiográfica, todo o retrato é auto-retrato, toda a forma de arte é forma de
vida. E vice-versa. O que o livro relata, portanto, é, na primeira parte, uma
conversão à estranheza da intimidade e, na segunda, à sua habitação – no
entanto, porque o escritor só deve falar de tudo que sabe, a primeira parte, a
do cinismo, a da distância, a da auto-impiedade é infinitamente superior à
conclusão, adocicada por um encontro que tem a dupla vantagem e cegueira de ser
amoroso e político. De qualquer forma, [...] pensamos que a sua aquisição é recomendável.».
Face às observações dos donos da Frenesi Loja, constato que a maior parte dos livros da minha biblioteca, vivem do problema de que estão fartamente
manuseados e, porque largamente sublinhados, não apresentam miolo limpo.
Mas não consigo entender os livros de uma outra maneira o que,
certamente, não agradará aos vindouros que os queiram vender para comprar bilhetes
para o cinema, coca-cola e baldes de pipocas.
A pouco e pouco nas famílias da oposição começou também a crescer a
impotência consciente, a força do destino adverso irresistível sobre nós, a
impossibilidade de até ao fim combater a ditadura porque os anos passavam.
Instalavam-se dentro da incomodidade e muitas vezes deixavam de ter a percepção
da mudança e da diferença entre as coisas, as épocas, as pessoas, as datas, as
palavras. Não era o medo, nem a falta de coragem, era uma incapacidade de análise,
de invenção e de combate. Isto é uma coisa que marca. Não sei se te marcou
profundamente, mas marca. E houve cada vez mais disputas: a quem pertencia a oposição,
a que famílias e que ideias, a que escritos, a que organizações, a que siglas;
e mais desconfiança para com todos os que de novo ascendiam às suas ideias ou
conversas, regozijando-se ao mesmo tempo, ajudando-os com o entusiasmo e com
cuidado, não permitindo excessos, fornecendo o que era seu, contabilizando,
facturando por dentro não permitindo autonomias, nem emancipações, acarinhando,
querendo sobretudo re-produzir-se.
Não entendendo algumas zonas de assuntos do que os mais novos diziam –
a economia e as colónias; sabendo o que entre si diziam nos estaleiros, nas
fábricas, nas igrejas, sendo os campos um cenário muito longínquo onde
depositavam muita fé; não acreditando em movimentações subterrâneas, nem de
estudantes nem de católicos – estás a perceber; fugiam ao destino devagar – as deserções,
as fugas para o estrangeiro, o peso do serviço militar, a droga.
Há homens que desparecem e logo se descobre que estavam mortos desde
muito cedo. Há homens que ficam connosco, pessoas que nos acompanham como
tesouros silenciosos no fundo do mar.
Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e
nem cicatrizes deixam.
Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida e que marcam para
sempre...
Houve um tempo em que festejavam o dia dos meus anos, hoje sou eu que
os festejo, se assim se pode dizer, é como as carícias sobre o corpo, a mão de
um outro vem sempre de uma distância definitivamente perdida no eco das nossas
duas mãos, e é uma experiência diferente que nos prende a uma estranheza, e não
uma festa triste que se arredonda à nossa volta.
Eduardo Prado Coelho em Tudo o Que Não Escrevi 2º volume, Edições Asa, Porto, Abril de 1994
Capa de Luís Filipe da Conceição sobre fotografia de Eduardo
Gageiro
Edições Avante, Lisboa, Fevereiro de 1975
- Temos de subir a corda a pulso, subir a pulso e sempre… - dizia o
nosso Pereira Gomes a sorrir, como se contasse uma graça.
Subiu a corda. A pulso e até ao fim…
Eis aí outro em que também estou tranquilo. Nunca me cansei do cansaço…
Nunca me cansei, nem creio que venha a cansar-me, da luta e da vida. Nunca!
Assim, quando a outra vier, a tal senhora magra e de foice comprida, muito
feia e de incríveis exigências, não irei recebê-la de braços abertos, não!
Há-de violentar-me, há-de levar-me à força!... Contra toda a dialéctica da vida?
Pois será! Mas hei-de gritar-lhe que não, que não sou do seu mundo de repouso
aparente, sem luz, sem som, sem gente… Sem gente, caramba! Eu sou é deste, com homens
em redor, camaradas ou inimigos. Com mulheres, loiras e morenas, centros da
vida, tão belas em geral e tão próximas. E com crianças, mais do que deuses
rosados e imortais, herdeiras da vitória!
Oh magra senhora da foice! Acabarei por ter de aceitar-te, que remédio!
Mas ouve! Quero dizer-te o que não teria a coragem de dizer a uma
mulher: és tão feia e fria, meu estafermo!
O Estado gastou mais de cinco milhões de euros, sem concurso
público, com serviços contratados a escritórios de advogados. Empresas, Governo
e outros organismos públicos contratam as maiores sociedades de advogados para
pareceres e outros serviços jurídicos. Metade dos cinco milhões de euros gastos
em ajustes directos em 2011 foram entregues a quatro escritórios.
Os jornalistas pegam nisto pela rama. Estão bem treinados na cultura do arco da governação.
Por exemplo, seria estimulante uma investigação sobre pequenos
escritórios de advocacia que se tornaram enormes, e passaram a
especializar-se noutras
áreas, depois de um dos seu associados ter passado por
S.Bento.
Também seria revigorante saber qual a parte dos inestimáveis
serviços prestados pelas grandes sociedades de advocacia que não poderia ter
sido feita pelos serviços jurídicos dos organsimos públicos e
ministérios.
O negócio dos pareceres jurídicos ficaria para depois...
Cavaco, enquanto Presidente da República Portuguesa, é um pulha. Um
tipo que para vencer umas eleições faz chantagem sobre o eleitorado, é um
pulha. Um tipo que após ganhar essas mesmas eleições tudo faz para que o seu
País seja obrigado a aceitar as piores condições de financiamento, incluindo a
diminuição drástica da soberania, é um pulha. Resta só descobrir a razão pela
qual este País aceita ser representado no mais alto cargo do Estado por um
pulha.
Poucas dúvidas existem de que, Desfolhada é uma bonita
canção que, na altura, foi uma pedrada no charco do nacional-cançonetismo que
nos assistia.
Para a desilusão da votação que a canção obteve em Madrid há
um pormenor de que muitos se esqueceram: não era a Desfolhada que estava em
votação, antes uma ditadura que mantinha uma guerra contra povos africanos.
Por mera curiosidade diga-se que a Áustria recusou participar
no Festival da Eurovisão desse ano por
decorrer num país governado por um ditador: Francisco Franco.
Na Fotobiografia de José Carlos Ary dos Santos
pode ler-se que, provavelmente, foi ao assistir a uma desfolhada, numa festa, que Zé
Carlos se sentiu inspirado para escrever esta letra. No manuscrito da canção, a
letra aparece primeiro com o título de Lenda Encantada, depois riscada e
substituída por Desfolhada. No final do poema lê-se: Letra de Terrear para
música de Água de-Fogo.
A canção aparece no Festival da Canção da RTP como Desfolhada
e com é esse estampado na lª edição em disco.
As razões da alteração tiveram a ver, ao que parece, com o
facto de na Sociedade portuguesa de Escritores já existir o registo de uma
canção com o nome Desfolhada e o seu autor exigiu que se fizesse a alteração na
canção de Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes.
Mais um pouco de história.
Simone de Oliveira não foi a primeira escolha para cantar Desfolhada.
Três ou quatro intérpretes foram apontadas, entre as quais
Madalena Iglésias, que chegou a gravar a canção mas quis que o verso quem
faz um filho fá-lo por gosto fosse cortado, a que Ary dos Santos,
obviamente, recusou.
Ficou Simone, e ficou muito bem.
Dificilmente outra intérprete teria dado tanta força àquela seara louca em movimento. Cheia de confiança, Simone, à partida para
Madrid declarava: vai ser uma actuação à Benfica!
Legenda: a capa de Desfolhada é uma cortesia deMr. Ié-Ié
Neste dia, no ano de 1969, Simone de Oliveira, vinda de
Madrid, depois de ter participado, com Desfolhada, no 14º Festival da Eurovisão
chegou à Estação de Santa Apolónia, sendo recebida por milhares de portugueses
- as crónicas da época falam em 20 mil – gritando o seu nome e empunhando cartazes
e bandeiras, o levantamento do povo tal como Simone disse aos jornalistas.
Portugal ficou no penúltimo lugar com apenas 4 pontos que
causaram enorme frustração e indignação. Consta que o Ministro da Informação e
Turismo de Espanha foi aos bastidores pedir desculpas a Simone, que a maior
parte das delegações cantantes prestaram solidariedade à artista e o maestro
Ferrer Trindade, que dirigiu a orquestra, chamou à votação uma enorme
palhaçada.
Indignado, O Século exigia que abandonássemos,
para sempre, o Festival da Eurovisão.
O para sempre não se cumpriu e acabámos por regressar em
1971 com mais um canção de José Carlos Ary dos Santos: Menina cantada pela
Tonicha.
Quando em 24 de Fevereiro Desfolhada venceu o VI
Grande Prémio da Canção Portuguesa, saltou a euforia e as expectativas para o Festival
da Eurovisão subiram demasiado alto.
Numa prosa muito secretariado da informação, o Notícias
de Portugal, epicamente exultava:
Com todo o sabor de um panegírico ressurgido da terra, força imanente
da alma da gente agrária no simbolismo das palavras ao ritmo melódico da música popular, «Desfolhada» constitui um
hino de louvor à grei, expressão maior desta geografia humana tão fortemente
portuguesa, das serranias cobertas de pinheirais, às planícies atapetadas de
searas, do verde das árvores, às espigas de trigo loiro, dos areais da costa
beijada pelo mar infinito em ondas, ao firmamento sem quebras na unidade de
azul. Todo o espaço de Portugal europeu onde o Amor e a Fé renascem a cada
momento de vida, para, numa viagem ao encontro do tempo, disseminar, por todo o
Mundo, o talento de bem fazer.
Legenda: a fotografia da chegada de Simone de Oliveira a Santa Apolónia é tirada do Notícias de Portugal de 5 de Abril de 1969.
Capa de O Século Ilustrado é tirada da Fotobiografia de Ary dos Santos - o Homem, o Poeta, o Publicitário de Alberto Bemfeita, Editorial Caminho Lisboa, Agosto de 2003.
20 de Março de 1974 Ontem, o Conselheiro Albino dos Reis, decano dos parlamentares, proferiu um discurso na Assembleia Nacional em que abordou a sublevação dos militares do Regimento de Infantaria 5. Reproduz-se a parte final do discurso:
Escrevi tantas
vezes a palavra pai que lhe gastei todo
o significado. Quando agora escrevo pai, já não sinto
as barbas a roçarem a minha mão macia, as rugas que
os anos transportaram para a sua face, os óculos, os
dedos, a voz com que me chamava filho como se eu
me escrevesse pai. Gastei tudo o que uma palavra pode
dizer porque esqueci a sua memória. Gastei-a em maus
poemas e em maus romances, poemas e romances com
a foz ao fundo e a mãe segurando-me o corpo pequeno
sobre o muro que ladeava a praia. Gastei-a
definindo-lhe as letras, alargando-lhe o significado.
Gastei-a tirando-lhe a dízima infinita e não periódica
e colocando-lhe, depois da letra que se salvou, o mar
fechado no seu interior. Gastei-a a tentar definir o amor.
Jorge Reis-Sá na
Antologia, Em Nome do Pai, organizada
por José da Cruz Santos, Modo de Ler Editores, Porto Março de 2008.
Legenda: S. José e o Menino, pintura de
Josefa d’Óbidos, tirada da antologia Em
Nomedo Pai.
O ministro dos Negócios Estrangeiros Rui Patrício, ainda no
Rio de Janeiro onde foi assistir à tomada de posse do novo Presidente do
Brasil, disse aos jornalistas que a sublevação de alguns oficiais subalternos
nas Caldas da Raínha, mais não foi que um acto isolado movido por motivos de
carácter profissional.
Como se entendia que os jornais, rádio e televisão
estrangeiros estavam a difundir notícias que não correspondiam à realidade, o
governo informava da nação sobre o número de oficiais detidos.
Porém, o comunicado no seu laconismo habitual, não revela a
situação dos restantes militares que das Caldas saíram em direcção a Lisboa.
O programa da troika está a ser mal aplicado, o país e as
pessoas estão hoje pior que há três anos e a austeridade não deverá
diminuir nos próximos tempos.
Estas são algumas das conclusões mais relevantes do estudo
da Eurosondagem e do Fórum das Políticas Públicas 2014, coordenado por
Pedro Adão e Silva e Maria de Lurdes Rodrigues, que visa avaliar a
percepção dos portugueses sobre estes quase três anos de cumprimento do
programa de assistência económico-financeira da troika a Portugal.
Publicações Europa-América, Lisboa Janeiro de 1975
Entre 1904 e 1914, entre os vinte e os trinta anos,
tinha viajado por toda a Europa, durante as férias universitárias, para
completar a sua educação, segundo o desejo do seu pai. Um Verão, quando voltava
de Londres, ao ir embarcar em Valência para Nápoles, tinha passado por
Portugal. Tinha posto a si mesmo mil perguntas sobre o declínio dessa nação
cujo império se tinha estendido à volta do Globo. Tinha conhecido escritores que
não escreviam para ninguém; homens políticos que governavam para os Ingleses;
homens de negócios que liquidavam os seus estabelecimentos do Brasil e viviam
de pequenas rendas, em cidades de província, sem finalidade. Ele tinha pensado
que era a pior das infelicidades nascer Português. Em Lisboa, pela primeira vez
na vida, tinha-se encontrado com um povo que se tinha desinteressado.
(Primeiro intervalo em S. Carlos. Sorrimos uns para os outros.
«Então como está?» «Há muito que não o via!»... Musgo. Teias de aranha nos ouvidos. Fascismo de «smoking». Passo pelos corredores escondido atrás de mim.)
Disseram-lhes
que estavam vivos
por disciplina de cemitério.
E todos acreditaram
já com os pés em ângulos rectos.
Mas vivos que são?
Mortos incompletos.
José Gomes Ferreira, Poesia IV, Portugália Editora,
Lisboa, Dezembro de 1970
A Época, na sua primeira página,
realçava que a tranquilidade foi sentida no país num domingo de Inverno cheio
de sol e que nas Caldas da Raínha o mercado registou o habitual movimento e
que nas pastelarias nem sequer decresceu o fabrico das apetitosas «cavacas».
O Século também realçava a normalidade em todo o país e
terminada a notícia:
É de esperar que
venham a ser divulgadas informações mais pormenorizadas para o esclarecimento
da opinião pública, sobretudo tendo em vista os relatos exagerados ou fantasiosos
divulgados ni Imprensa e na rádio estrangeiras.
Legenda: a fotografia do merceado das Caldas da Raínha é
tirada do Diário Popular de 18 de Março de 1974.