15 de Março de 1974
Os jornais deste dia fazem largas referências ao encontro dos
oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas, que, na véspera, se deslocaram
ao Palácio de S, Bento para reafirmarem
a Marcelo Caetano o apoio dos militares no que respeita «à política de defesa
das províncias ultramarinas.»
Em nome dos militares falou o Chefe do Estado-Maior do
Exército, General Paiva Brandão:
As Forças Armadas não fazem política mas é seu imperioso dever, e
também da nossa ética, cumprir a missão que nos foi determinada pelo Governo
legalmente constituído
Estamos unidos e firmes e cumpriremos o nosso dever sempre e onde quer
que o exija o interesse nacional.
Marcelo Caetano agradecendo o apoio:
O Chefe do Governo escuta e aceita a vossa afirmação de lealdade e
disciplina. A vossa afirmação de que as Forças Armadas não só não podem ter
outra política que não seja a definida pelos poderes constituídos da república,
como estão, e têm de estar, com essa política quando ela é a da defesa da
integridade nacional.
O País está seguro de que conta com as suas Forças Armadas. E em todos os escalões destas não poderá restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos.
Pois vamos então continuar, cada um na sua esfera, dentro de um pensamento comum, a trabalhar a bem da Nação.
O País está seguro de que conta com as suas Forças Armadas. E em todos os escalões destas não poderá restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos.
Pois vamos então continuar, cada um na sua esfera, dentro de um pensamento comum, a trabalhar a bem da Nação.
Felizes e cientes do dever cumprido todos regressaram aos
seus afazeres.
A pergunta que ainda hoje se coloca:
È possível que daquelas generalícias almas, uma única, não tivesse o
mais leve sinal do que na madrugada seguinte iria acontecer no Regimento de
Infantaria 5 nas Caldas da Raínha?
Marcelo Caetano revela no seu Depoimento que encetou
todos os esforços, para que Costa Gomes e Spínola estivessem presentes na
audiência, mas ambos recusaram e Marcelo lembrou-lhes que essa recusa implicava a
exoneração dos cargos onde estavam.
Em consequência da recusa dos generais, é emitido um despacho
enviado pela Secretaria-Geral da Presidência do Conselho à Imprensa Nacional,
para próxima publicação no «Diário do Governo» em que são exonerados os
generais Francisco da Costa Gomes e António Sebastião Ribeiro de Spínola dos
cargos de chefe e vice-chefe do estado maior das Forças Armadas, que ocupavam
por designação directa do Chefe do Governo. Um outro despacho nomeava o general
Joaquim Luz da Cunha, na altura comandante da Região Militar de Angola, para
suceder ao general Costa Gomes.
Voltemos ao Depoimento de Marcelo Caetano:
A 18 de Fevereiro recebi um exemplar do livro Portugal e o Futuro com
amável dedicatória do autor: Não pude lê.lo nesse dia, nem no seguinte em que
houve Conselho de Ministros. E só no dia 20 consegui, passadas já as onze da
noite, encetar a leitura ao cabo de uma fatigante jornada de trabalho. Já não
larguei a obra antes de chegar à última página, por alta madrugada. E ao fechar
o livro tinha compreendido que o golpe de Estado militar, cuja marcha eu
pressentia há meses, era agora inevitável.
Legenda: a fotografia é tirada do Notícias de Portugal nº
1403, o título pertence ao jornal República de 15 de Março de 1974.
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