O primeiro olhar que tenho sobre Alain Renais é no primeiro
número do Cinéfilo, num dossier sobre filme o Hiroxima Meu Amor
O filme só o veria depois do 25 de Abril
O tempo de ver os filmes de Alain Renais era um tempo que
não se pode definir. Pelo menos não sei definir. Se há cineasta que me causa as
mais diversas sensações, as mais diversas incompreensões, o pensar que o que
estou a ver é assim e ser absolutamente o contrário, tem Resnais como mola
impulsionadora. Maneira única de gostar de um cineasta e tenho poucos como ele.
Fumar ou não Fumar depois vaguear, tal como há mar e mar.
Hiroxima Meu Amor tem por detrás um magnífico argumento,
chamo-lhe livro, mas Resnais consegue dar a todo aquele trama uma envolvência
com tanto de poético como de trágico.
Sabemos do horror de todas as Hiroximas da História, mas é
necessário alguém com um dom especial que possa transmitir, naquele
extraordinário preto e branco, todo esse horror e o que para além desse horror
ainda possa estar.
Saber que nunca tinha dirigido actores e ter em mãos
Emmanuelle Riva já a dizer ao que vinha, cumplicidades várias, a mão de Resnais,
essa extraordinária actriz que tão recentemente vimos nesse admirável Amour de Michael Haneke.
Emmanuelle Riva, na entrevista ao Cinéfilo:
Emmanuelle Riva, na entrevista ao Cinéfilo:
Hiroshima Mon Amour foi evidentemente uma experiência muito importante! Resnais ainda
não tinha dirigido actores - era a sua primeira longa metragem - e ele mesmo
dizia que não sabia dirigi-los. Mas havia uma grande precisão no argumento,
resultado do trabalho conjunto Duras-Resnais. Toda a história do filme
estava escrita com muito pormenor, muito detalhadamente, o que nos ajudou
muito. Também foi um incentivo a relação de amizade que já existia entre os
dois. Havia uma compreensão tácita, em meias palavras, apenas com um olhar...
Essa mão, esses dons, partiram na noite de sábado, aos 92 anos e nunca
aquela frase batida de que Alain Resnais nos deixou quando ainda tinha alguns filmes
na manga para nos dar, tem tanta aplicação
no momento em que se sabe da sua morte.
Um extraordinário Providence, - como é que se sai, ou se entra num castelo daqueles? - que vi numa matinée no Quarteto em que, duas
filas à frente, estava o José Afonso, e o que eu gostei deste filme e dele nem
uma palavra consigo alinhar, também essa deliciosa brincadeira que É
Sempre a Mesma Canção, ternuras várias ao som das canções francesas que
marcaram tempos, histórias envolvidas em canções de histórias tão simples ou mesmo
sem história.
Ah!... e esse Último Ano em Marienbad para voltar
a ser uma viagem de regresso e de que tornarei com pouco ou nada compreender,
nem querer compreender, talvez porque o tempo não significa nada,
como a certo ponto diz o homem, a que se tem de juntar uma banda sonora inacreditável e envolvente,
talvez o tempo das escuridão, talvez das trevas… regressar a Marienbad...
É assim a história do cinema. Também a nossa história.
Todos somos dotados de memória e todos fazemos as mais
diversas tentativas para esquecer essas memórias…
Acabamos por ficar sós.
Será mesmo o fim da noite?
Resnais já não nos poderá ajudar mais.
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