11 de Março – O Tiro pela Culatra
Coordenação: Dinis de Abreu
Capa: Vítor Piava
Edição Liber, Lisboa, Março de 1975
Às 15 e 35 a Emissora Nacional transmite um comunicado do Presidente da
República, que informa a população de que «a aventura contra-revolucionária
foi conduzida por traição de alguns quadros, enganando e arrastando consigo os
soldados e outros subordinados com afirmações falsas e provocatórias que os
levaram a disparar contra os camaradas do R.A.L. 1».
Para Spínola e mais 15 oficiais, Tancos era o ponto de partida para a
fuga. O desespero do golpe falhado. A contra-revolução perdida. Ente Tancos e
belém, havia, afinal, Talavera la Real
e uma autorização de trânsito para o Brasil, por motivos de «humanidade».
Para Marcelo Caetano e Américo Tomás, o exílio de Spínola era recebido com silêncio.
Para o capitão Pinto Soares (Comissão Coordenadora do M.F.A.), abordado em
Madrid pelos jornalistas, o movimento abortado não fora um «movimento militar
ou político», mas «um acto isolado, inconsciente e suicida de alguns
militares». Para o major Melo Antunes, de
regresso a Lisboa, vindo de Argel, «temos agora mais do que nunca
possibilidades de avançar e de consolidar todo este processo. E espero que
estejam alcançadas todas essas condições».
Para o prof. Freitas do Amaral, em Londres, o golpe tinha-o deixado «surpreendido
e chocado». Para o brigadeiro Otelo de
Saraiva de carvalho, em Lisboa, os acontecimentos verificados não passavam «de
mais um assalto das forças reacionárias à jovem de democracia portuguesa». Para o capitão Salgueiro maia, em Santarém «Spínola
está absolutamente irrecuperável – na presente situação política, ele era para
os seus adeptos um «D. Sebastião».
Agora, já não há D. Sebastião».
De Presidente da República do após-25 de Abril a «D. Sebastião» no
exílio, eis a estranha trajectória dum «bonapartismo spinolista», no espaço de uma Revolução que Costa Gomes
projectou no futuro - «Que a história nos venha a julgar dignos do Povo a
que pertencemos».
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