29 de Março de 1974
Para cima de cinco
mil encheram por completo o Coliseu dos Recreios em Lisboa e assistiram a algo
que lhes marcou as vidas.
Tinha acontecido o
16 de Março, a confusão instalada, alguns a dizerem dizer que estava para breve,
muitos, tantas vezes esperançados e depois frustrados a não acreditarem.
Naquela noite de
emoções várias, passadas as portas do Coliseu, poderíamos pensar que talvez se
aproximasse, assim como o poeta dissera à rapariga, o tal dia em que a Primavera
se soltaria no País de Abril.
Assim foi.
De uma vez só, ficámos a saber que o acto de cantar é um acto que responsabiliza a pessoa que
canta e as que o escutam.
Estas são as palavras introdutórias que Mário
Contumélias, sobre esta noite, escreveu para o Cinéfilo de 6 de Abril de 1974
A coisa
chamava-se – chamou-se o I Encontro da Canção. Estavam marcados para se
encontrar com a malta o Quarteto de Marcos Resende, o duo Carlos Alberto Moniz
e Maria do Amparo, Manuel José Soares, Carlos Paredes (com Fernando Alvim); o
conjunto espanhol Vino Tinto, que a televisão já vira; Pablo Guerreiro; Ary dos
Santos; José Barata Moura; Manuel Freire; Fernando Tordo; José Jorge Letria; o
conjunto Intróito; Adriano Correia de Oliveira; José Afonso; Ruy Mingas e Paulo
de Carvalho; cá por mim fui lá, por dever de ofício, a contar com uma grande
estopada. Não que, de um modo geral, eu estivesse com dúvidas sobre a
importância da maioria dos convidados no contexto da nova canção portuguesa
(embora não percebesse muito bem o que iriam lá fazer dois ou três dos que eram
para – e acabaram por estar e não – estar presentes. Nada disso. O que eu temia
era que, no meio da confusão, a coisa resultasse numa pepineira intragável. Mas
fui! E agora que aquilo já passou, há uns dias largos, ainda guardo em mim uma
grande emoção. Fosse lá porque fosse, naquela noite, no Coliseu, senti-me. E
isso não nos acontece todos os dias. Isso é importante!
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