Conta Corrente
1
(1969-1976)
Vergílio Ferreira
Capa: Luís Duran
Editorial Bertrand, Lisboa Dezembro de 1980
O livro de Spínola alastrou numa revolta militar
frustrada. O livro? Há um clima de inquietação, um cansaço do provisório em que
vivemos. O difícil da questão é que solução alguma coisa se nos impõe como boa.
Há que escolher a menos má. Qual? A África é dos pretos que “exploramos” há
quinhentos anos. Exploramos? Só? Mas como aguentar o embate da separação? O
recurso seria retroactivo: termo-nos preparado para isso. Mas Salazar, como
certos bichos, o que entregou foi pedra. Dizem-me: o Marcelo quer aguentar a
guerra até estarmos preparados. Mas o desgaste não vai mais depressa que a
preparação? Tentamos acumular de um lado, enquanto gastamos do outro Qual o
saldo? Entretanto, ainda se recorre à retórica imperial. “Deus manda combater,
não vencer, diz Marcelo. Mas Deus manda o que lhe mandamos mandar. Deus de paz,
Deus carniceiro, Deus celeste ou terreno. O Deus de Marcelo não é muito
inteligente. Ou estará simplesmente enrascado, sem saber o que fazer.
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