sábado, 29 de março de 2014

OLHAR AS CAPAS


As Voltas de Um Andarilho

Viriato Teles
Prefácio de Sérgio Godinho
Capa: foto de Joaquim Pimentel
Colecção Rei Lagarto nº 41
Assírio & Alvim, Lisboa, Outubro de 2009

Com a lotação esgotada desde muitos dias antes, o Coliseu transforma-se num imenso coro de cinco mil vozes dispostas a cantar bem alto o outro lado da realidade permitida. Há agentes da Pide por todo o lado, ninguém o ignora. O espectáculo tarda a começar porque Adriano não tinha enviado os textos ao «exame prévio» da Censura. A situação acabará por resolver-se graças a dois censores «casualmente» de serviço na plateia do Coliseu que, ali mesmo, decidem quais os temas que podem ou não ser ouvidos.
Quando finalmente tem início o «desfile», é a apoteose. Primeiro com alguns equívocos, como aconteceu durante a primeira parte da actuação de José Carlos Ary dos Santos recebida com uma chuvada de apupos por parte do público. Mas a força da sua poesia impôs-se e quando debitou «SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na pele» já ninguém tinha dúvidas de que aquele homem era efectivamente dos nossos…
Depois foi o grande coro colectivo, a culminar com os cinco mil espectadores, de pé, a versos de «Grândola Vila Morena», ironicamente a única canção Zeca a passar integralmente as malhas da Censura. E é o seu grande impacto na noite de 29 de Março que irá determinar a sua escolha para senha do Movimento das Forças Armadas, na noite de 24 para 25 de Abril.

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