Escrevi tantas
vezes a palavra pai que lhe gastei todo
o significado. Quando agora escrevo pai, já não sinto
as barbas a roçarem a minha mão macia, as rugas que
os anos transportaram para a sua face, os óculos, os
dedos, a voz com que me chamava filho como se eu
me escrevesse pai. Gastei tudo o que uma palavra pode
dizer porque esqueci a sua memória. Gastei-a em maus
poemas e em maus romances, poemas e romances com
a foz ao fundo e a mãe segurando-me o corpo pequeno
sobre o muro que ladeava a praia. Gastei-a
definindo-lhe as letras, alargando-lhe o significado.
Gastei-a tirando-lhe a dízima infinita e não periódica
e colocando-lhe, depois da letra que se salvou, o mar
fechado no seu interior. Gastei-a a tentar definir o amor.
o significado. Quando agora escrevo pai, já não sinto
as barbas a roçarem a minha mão macia, as rugas que
os anos transportaram para a sua face, os óculos, os
dedos, a voz com que me chamava filho como se eu
me escrevesse pai. Gastei tudo o que uma palavra pode
dizer porque esqueci a sua memória. Gastei-a em maus
poemas e em maus romances, poemas e romances com
a foz ao fundo e a mãe segurando-me o corpo pequeno
sobre o muro que ladeava a praia. Gastei-a
definindo-lhe as letras, alargando-lhe o significado.
Gastei-a tirando-lhe a dízima infinita e não periódica
e colocando-lhe, depois da letra que se salvou, o mar
fechado no seu interior. Gastei-a a tentar definir o amor.
Jorge Reis-Sá na
Antologia, Em Nome do Pai, organizada
por José da Cruz Santos, Modo de Ler Editores, Porto Março de 2008.
Legenda: S. José e o Menino, pintura de
Josefa d’Óbidos, tirada da antologia Em
Nome do Pai.
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