Nos tempos da ditadura, numa televisão a preto e branco, o
país sentava-se entusiasmado frente ao aparelho para assistir ao ZIP-ZIP.
Apesar de cortes da censura, um programa que conseguia
passar para lá do habitual cinzentismo que nos assistia.
Por ele o país ficou a conhecer Almada Negreiros, outros
mais, por ele começou a ver e a ouvir uma série de rapazes que, de viola na
mão, cantavam coisas fora do circuito do então já chamado nacional- cançonetismo.
Mais espantadas ficaram as gentes quando uma noite um padre, Fanhais de seu nome, entrou casa dentro a dizer que a um rouxinol lhe tinham quebrado as asas não o
deixando voar, lhe quebraram o bico não o deixando cantar.
Estava dado o mote.
Ainda com mais força passamos a acreditar-se que, um dia,
talvez chegasse um tempo de surpresas.
Mas a Francisco Fanhais, também padre, também professor,
também agitador cultural, não mais permitiram que desse missa, desse aulas,
cantasse.
No ano de 1970 edita o álbum Canções da Cidade Nova onde inclui o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que será hino de uma
vigília de forças progressistas na Capela do Rato, na noite de 31 de
Dezembro de 1972 e brutalmente interrompida pela Pide.
Mais não era que um aviso aos tiranos, às gentes (ainda) tão
distraídas.
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