domingo, 2 de março de 2014

VEMOS OUVIMOS E LEMOS


Nos tempos da ditadura, numa televisão a preto e branco, o país sentava-se entusiasmado frente ao aparelho para assistir ao ZIP-ZIP.

Apesar de cortes da censura, um programa que conseguia passar para lá do habitual cinzentismo que nos assistia.

Por ele o país ficou a conhecer Almada Negreiros, outros mais, por ele começou a ver e a ouvir uma série de rapazes que, de viola na mão, cantavam coisas fora do circuito do então já chamado nacional- cançonetismo.

Mais espantadas ficaram as gentes quando uma noite um padre, Fanhais de seu nome, entrou casa dentro a dizer que a um rouxinol lhe tinham quebrado as asas não o deixando voar, lhe quebraram o bico não o deixando cantar.

Estava dado o mote.

Ainda com mais força passamos a acreditar-se que, um dia, talvez chegasse um tempo de surpresas.

Mas a Francisco Fanhais, também padre, também professor, também agitador cultural, não mais permitiram que desse missa, desse aulas, cantasse.

No ano de 1970 edita o álbum Canções da Cidade Nova onde inclui o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que será hino de uma vigília de forças progressistas na Capela do Rato, na noite de 31 de Dezembro de 1972 e brutalmente interrompida pela Pide.

Mais não era que um aviso aos tiranos, às gentes (ainda) tão distraídas.


                                         

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