Têm sentido de humor os que têm sentido prático. Quem
descuida a vida, embevecido numa ingénua contemplação (e todas as contemplações
são ingénuas), não vê as coisas
com desprendimento, dotadas de livre, complexo e contrastante movimento, que
forma a essência da sua comicidade. O típico da contemplação é, pelo contrário,
determo-nos no sentimento difuso e vivaz que surge em nós ao contacto com as
coisas. É aqui que reside a desculpa dos contemplativos: vivem em contacto com
as coisas e, necessàriamente, não lhes sentem as singularidades e características;
sentem-nas, pura e simplesmente. Os práticos – paradoxo – vivem distantes
das coisas, não as sentem, mas compreendem o mecanismo que as faz funcionar. E
só ri de uma coisa quem está distante dela. Aqui está, implícita, uma tragédia:
habituamo-nos a uma coisa afastamo-nos dela, quer dizer, perdendo o interesse.
Daqui, a corrida afanosa.
Naturalmente, de um modo geral, ninguém é
contemplativo ou prático de forma total, mas, como nem tudo pode ser vivido,
resta sempre, mesmo aos mais experimentados, o sentimento de qualquer coisa.
Confiaste a vida a um cabelo: não te debatas, senão
parte-lo.
Legenda: não foi
possível identificar o autor/origem da fotografia.
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