António dos Olhos Tristes
Eduardo Olímpio
Capa: H. Mourato
Colecção Cacto
nº 7
Prelo Editora,
Lisboa, Março de 1978
Quando Mestre Manuel Regedor acabou de ler esta parte do folhetim que há um ror de tempo
vinha aparecendo no jornal, os homens ficaram com um brilho tão forte nos olhos
que pareciam capazes de alevantar dez arrobas de peso com as mãos.
António dos olhos Triste pediu a Mestre Manuel: -
Dê-me esse pedaço de jornal, Mestre Manuel Regedor. Dê-me que eu agradeço-lhe
muito. Mestre Manuel começou a cortar a parte do rodapé que trazia o folhetim e
foi dizendo a António dos Olhos Tristes:
- Mas pra que diacho queres tu o jornal se não sabes
ler nem escrever, não me dizes?
António dos Olhos Tristes agarrou no pedaço de
folhetim e quase que a falar só para ele foi dizendo enquanto o enrolava na
algibeira: - Isto que aqui está é tão certo que eu só de olhar prós riscos que
aqui estão sou capaz de o tornar a dizer, letra por letra, sem me enganar:
quando os homens escrevem e dizem as coisas tal e qual como elas são a gente só
tem de olhar ou escutar pra ser capaz de os entender. E começou, enquanto se
alevantava do banco: - Pensa que o mundo está cheio de homens que lutam para
que um rio de lodo não se atravesse entre a vida e o sonho.
Depois saiu.
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