Aldeia Nova
Manuel da Fonseca
Capa: Armando Alves
Editorial Caminho,
Lisboa, Junho de 1984
Rui enchia o peito de ar, lavava-se no sol. Mas já ia correndo rua
abaixo. Uma grande vontade de correr. Onde estaria o Tóino e os outros? Ah!
diria a avó que não queria voltar mais àquela casa! E diria também ao Estroina.
Talvez lhe dessem razão… Deixassem-no andar, assim à sua vontade. Deixassem-no
correr. Correr era bom. O bibe abria-se para os lados como asas. Deitava a
cabeça para trás; o chão fugia-lhe debaixo dos pés. Nem via as casas, só o céu
por cima dele. Entontecia, sentia-se livre como um pássaro. Se a mãe estivesse,
não sereia nada daquilo a sua vida, não. A mãe deixava-o ser livre como um
pássaro. Diria tudo isso ao avô: «Avô, desde que a mãezinha partiu, sinto-me
preso como um pássaro numa gaiola!» Mas o avô não compreenderia as suas
palavras. Nem a avó, nem o Estróina, ninguém!... O melhor era ir correndo,
correndo sempre, correndo até tombar de cansado.
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