Durante os tempos da
censura salazarista/marcelista, vários foram os esquemas utilizados pelos
jornalistas para driblarem os coronéis-censores.
Um deles era «escrever
nas entrelinhas» e, por vezes, a burrice/analfabetismo dos censores não entendiam
a mensagem que navegava por essas entrelinhas.
Em 1973, Eduardo
Valente da Fonseca, jornalista do República
desde 1965, conseguiu convencer direcção e chefias do jornal a publicar uma
brincadeira, com alguns riscos, é certo, no suplemento Fim de Semana, servindo-se dos signos astrológicos.
Chamou-lhe O Horóscopo de Delfos.
Tudo o que se publicava
no jornal tinha de ir à censura, excepto as palavras cruzadas, os números da
lotaria, o movimento das marés, os discursos anedóticos do presidente Tomás e
os horóscopos.
Semanalmente, com humor e inteligência o Eduardo Valente da
Fonseca lançava directas e indirectas à situação política, e não só.
Quando os coronéis conseguiram
descobrir as subtilezas do Eduardo, exigiram que o Horóscopo também passasse a
ir à censura.
Mas foi sol de pouca
dura.
Faltavam poucas semanas
para que acontecesse o 25 de Abril.
Em Maio de 1998 a
Campo das Letras editou esses Horóscopos de Delfos.
Alguns dos textos são
de difícil entendimento porque datados, e apenas os que viveram aqueles conturbados
tempos, se apercebe da subtileza do humor e da acutilância militante da escrita
ímpar de Eduardo.
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