As palavras são seres intranquilos. Mesmo as mais
conformadas e mais comuns, dessas que servem, não para dizer, mas para
comunicar, têm sobressaltos e caprichos de sentido que nos deixam de repente
ainda mais desamparados diante do ameaçador mundo de todos os dias. E palavras
desmesuradas e antigas, pelas quais pensámos um dia ser capazes de morrer e que
envelheceram connosco ou julgávamos mortas, assomam-nos ainda às vezes aos
lábios vindas do fundo da memória (ou quem sabe?, do fundo do coração) como se dissessem:
«Sou eu não me ouves chamar?»
Manuel António
Pina em Crónica, Saudade da Literatura
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